Título: OCDE não vê riscos para a economia global
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2007, Economia, p. B3
Apesar do forte solavanco sofrido há duas semanas pelos mercados financeiros, cujo impacto negativo voltou a se manifestar de forma severa ontem, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) manteve a avaliação positiva para a economia mundial, que, segundo ela, está num processo de 'reequilíbrio'.
A entidade, que congrega 30 dos países mais desenvolvidos, acredita que a atual desaceleração no ritmo de crescimento nos Estados Unidos será compensada pela expansão mais vigorosa na Europa, Ásia e nas grandes nações emergentes. 'A expansão nos Estados Unidos engatou uma marcha mais lenta, enquanto a robustez da recuperação na Europa foi confirmada', disse o economista-chefe da OCDE, Jean-Philippe Cotis.
Segundo ele, o nervosismo que tomou conta dos mercados financeiros internacionais desde 27 de fevereiro demanda cautela, mas deve ser uma correção passageira. 'Os preços das ações estão voláteis nas últimas semanas, a exemplo do que ocorreu por volta de maio do ano passado, mas, de certa maneira, isso pode resultar na normalização da precificação do risco', disse.
O otimismo da OCDE está ancorado na aposta de que os Estados Unidos não estão mergulhando numa recessão econômica. 'Trabalhamos com o cenário mais provável de um pouso suave e reequilíbrio econômico nos Estados Unidos e no mundo', disse Cotis. 'É claro que há riscos, mas a maior probabilidade neste momento não aponta para uma recessão na economia norte-americana.'
Ele explicou que o impacto negativo do desaquecimento no setor imobiliário nos Estados Unidos está sendo compensado pelo aumento das exportações e do consumo doméstico no país. A inflação norte-americana continua 'acima da zona de conforto' do Federal Reserve (Fed). Mas, segundo o economista, o desaquecimento no ritmo de atividade poderá causar uma queda na inflação, afastando a possibilidade de nova alta nos juros. 'Vamos ver o que vai acontecer nos próximos meses', disse, salientando que 'o espaço para uma queda dos juros nos Estados Unidos em 2007 é reduzido'.
'PERPLEXIDADE'
Em relação ao Japão, o economista da OCDE disse que o padrão da recuperação econômica é 'desequilibrado', pois se baseia principalmente nas exportações, enquanto o consumo interno continua fraco. Segundo ele, o risco de deflação no Japão ainda é grande. 'Há tempos que prevemos uma alta da inflação japonesa no trimestre vindouro', disse. 'Mas ela permanece próxima a zero, o que nos causa perplexidade'. Cotis aconselhou as autoridades japonesas a manterem os juros 'no menor nível possível' para estimular o consumo doméstico.
Isso, observou, poderá estimular um excesso de operações de carregamento (carry trades) financiadas pelo iene, um dos principais canais de transmissão da recente volatilidade nos mercados internacionais. Nessas transações, empréstimos obtidos com a moeda japonesa são investidos em ativos de países com taxas de retorno mais elevadas, como o Brasil.
'Mas é mais importante para o mundo a economia japonesa ter um crescimento saudável e afastar o risco deflacionário', explicou. Segundo Cotis, o problema dos carry trades é parte 'de um mundo desconfortável, com o qual temos que lidar'. Ele disse que uma eventual alta dos juros no Japão no futuro será gradual, o que deverá permitir um ajuste sem traumas nos mercados financeiros.
CHINA
Cotis não vê risco de um superaquecimento da economia chinesa. 'Uma economia com inflação baixa, crescimento muito forte, mas potencial de expansão grande, além de superávit em conta corrente, não indica superaquecimento econômico', disse. O maior risco na China, segundo ele, seria um investimento excessivo em setores específicos da economia, o que poderia causar um desequilíbrio mais amplo. Outro fator mundial favorável é baixo preço do petróleo.