Título: Mantega pede juro mais baixo ao BC
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2007, Economia, p. B3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu um recado indireto ontem ao Banco Central (BC) e voltou a cobrar a queda dos juros. Para Mantega, o BC não deve reger-se pelo conservadorismo na administração da Selic e precisa concentrar-se no centro da meta de inflação - de 4,5% em 2007 -, e não na sua banda inferior, ao definir a taxa nos próximos meses.

Em audiência no plenário do Senado, na qual expôs os aspectos fiscais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Mantega afirmou que o cenário da Selic, cuja projeção é de 10,1% para 2010, seguiu as previsões de mercado. Mas destacou que, descontada a inflação, os juros reais deverão atingir 5% ao ano, 'como em outros países emergentes', antes do final do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

'Cair 3 pontos porcentuais ao longo de 4 anos é sopa, é fácil. Tenho certeza de que será feito', disse aos senadores, referindo-se à atual taxa de juros reais, de cerca de 8%. 'O BC poderá entregar, no final de 2007, algo como 4,5% ou 5% de inflação. O centro da meta é 4,5%, e não menos. O governo não tem pauta conservadora', reafirmou a jornalistas, no final da audiência.

Mantega afirmou que este não é o momento de o Banco Central optar pelo conservadorismo e insistiu que a instituição 'terá de cumprir' a determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN) de perseguir o centro da meta de inflação. O ministro disse ainda que o ideal seria a variação da inflação acompanhar a taxa de crescimento. Para ele, cravar uma inflação de 4,5% com o crescimento também de 4,5% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano 'estaria ótimo' e é 'factível'.

A advertência de Mantega foi uma resposta à pergunta do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, sobre o fato de a variação da inflação ter-se mantido abaixo do centro da meta nos últimos 11 meses, sem que houvesse um corte mais profundo da Selic no período.

A posição de Mantega, entretanto, foi rebatida pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. 'Todo BC mira o centro da meta. É o que temos feito nestes quatro anos', afirmou, horas depois, após reunião com o ministro no prédio da Fazenda.

PREÇO

Questionado por vários senadores sobre o impacto do real valorizado nas previsões de crescimento da economia brasileira, Mantega salientou que a valorização cambial é o resultado do crescimento das exportações, dos juros altos e da queda do risco país, mas preferiu culpar apenas o superávit comercial.

O ministro reafirmou que o governo 'está altamente preocupado' com a valorização cambial. Também destacou que o reforço das reservas internacionais, hoje na casa de US$ 105 bilhões, garante ao Brasil não ficar à mercê dos movimentos da economia mundial.

Também nesses pontos, o ministro rivalizou com as posições de Mercadante. O senador ponderou que boa parte das exportações continua competitiva por causa dos mecanismos oficiais de financiamento. Mas setores como o de calçados e têxteis, intensivos em mão-de-obra, sofrem com o aumento das importações. As reservas, para Mercadante, são uma carga pesada, com altos custos para o BC. Segundo ele, a melhor opção seria o governo trabalhar pelo equilíbrio nas taxas de juros e de câmbio.

FRASES

Guido Mantega Ministro da Fazenda

'(O juro) cair 3 pontos porcentuais ao longo de 4 anos é sopa, é fácil. Tenho certeza de que será feito'

'O Banco Central poderá entregar, no final de 2007, algo como 4,5% ou 5% de inflação. O centro da meta é 4,5%, e não menos. O governo não tem pauta conservadora'

'Todo Banco Central mira o centro da meta. É o que temos feito nestes quatro anos'