Título: Promotor do caso Plame estava em lista de possíveis demitidos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2007, Internacional, p. A12

O procurador federal americano Patrick J. Fitzgerald foi incluído na categoria dos procuradores que ¿não se distinguiram¿ numa lista do Departamento de Justiça enviada à Casa Branca em março de 2005, quando ele liderava a investigação do vazamento da identidade de uma agente da CIA, que resultou na condenação de um assessor vice-presidente Dick Cheney por perjúrio. A revelação foi feita segunda-feira por funcionários do governo.

Fitzgerald foi classificado num grau abaixo dos ¿procuradores federais fortes (...) que mostraram lealdade¿ ao governo, mas num nível acima dos ¿procuradores federais fracos que (...) entraram em atrito com iniciativas governamentais¿, segundo documentos do Departamento de Justiça.

A lista foi o primeiro passo de uma campanha para identificar procuradores que deveriam ser demitidos. Dois procuradores incluídos na mesma categoria de Fitzgerald foram demitidos mais tarde. Dois procuradores listados na categoria mais elevada também foram destituídos.

A classificação de Fitzgerald dá nova dimensão à campanha, que começou com uma proposta da Casa Branca para remover 93 procuradores depois das eleições de 2004 e culminou na destituição de oito deles no ano passado, numa iniciativa que revoltou congressistas e motivou pedidos pela renúncia do secretário de Justiça, Alberto Gonzales.

A lista de março de 2005 foi compilada por D. Kyle Sampson, então assessor de Gonzales, e enviada a Harriet Miers, então conselheira jurídica da Casa Branca. A referência a Fitzgerald está num trecho do memorando que a Justiça não quis entregar ao Congresso, disseram funcionários.

Na época, Fitzgerald liderava a investigação independente do vazamento da identidade d agente da CIA Valerie Plame - que neste mês levou à condenação, por perjúrio, do ex-assessor de Cheney I. Lewis ¿Scooter¿ Libby.

Mary Jo White, que supervisionou Fitzgerald quando serviu como procuradora federal em Manhattan e condena as demissões, afirmou que sua classificação como um procurador medíocre ¿carece totalmente de credibilidade¿. ¿Ele é provavelmente o melhor procurador do país - sem dúvida um dos melhores¿, disse White.

¿Isso põe o processo inteiro em questão. É como a cereja do bolo.¿ Fitzgerald é amplamente reconhecido por ter promovido processos criminais contra a rede terrorista Al-Qaeda antes dos ataques de 11 de setembro de 2001. Foi ele quem pediu o indiciamento de Osama bin Laden. Ele foi nomeado promotor especial no caso do vazamento da CIA em dezembro de 2003 pelo então secretário de Justiça, John Ashcroft. Também sob Ashcroft, Fitzgerald ganhou o Prêmio Secretário de Justiça por Serviço Diferenciado em 2002.

A porta-voz do Departamento de Justiça, Tasia Scolinos, afirmou segunda-feira que ¿Pat Fitzgerald tem um histórico diferenciado como um dos promotores mais experientes e respeitados do Departamento de Justiça. Seu histórico fala por si.¿ Mas Fitzgerald também foi duramente criticado por muitos republicanos pela condução agressiva do caso Libby. O memorando de Sampson, de 2 de março de 2005, foi uma resposta à idéia de Miers de remover todos os procuradores federais durante o segundo mandato de Bush. Fitzgerald foi incluído numa categoria intermediária entre os colegas: ¿Nenhuma recomendação; não se distinguiram positiva ou negativamente.¿

Dois funcionários do governo disseram que Fitzgerald não foi incluído em listas posteriores de procuradores federais sujeitos à remoção compiladas por Sampson. O memorando no qual o nome de Fitzgerald aparece estava entre mais de 140 páginas de documentos enviadas aos parlamentares na semana passada, mas os nomes e as classificações da maioria dos procuradores haviam sido apagados.

Investigadores da Comissão do Judiciário do Senado exigem uma versão não editada do memorando, mas o governo recusa-se a fornecê-la, segundo um assessor democrata do Senado.