Título: Senado limita poder da Casa Branca
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2007, Internacional, p. A12

O Senado americano acabou ontem com o poder do governo de designar procuradores federais sem a aprovação do Congresso. A decisão, aprovada por 94 votos a 2, anula a cláusula da Lei Patriótica que permitia ao secretário de Justiça nomear procuradores sem consultar o Legislativo. Para virar lei, o projeto tem de ser aprovado pela Câmara, o que não deve ser problema por causa da ampla maioria democrata na Casa.

A medida, que contou com o apoio dos republicanos, é uma dura resposta à Casa Branca, que tenta segurar de qualquer maneira o emprego do secretário de Justiça, Alberto Gonzales, velho amigo do presidente George W. Bush. Gonzales é acusado de demitir procuradores federais por razões políticas. Ontem, Bush acordou cedo e foi até a Sala Oval para telefonar para Gonzales. Os dois conversaram sobre o escândalo das demissões. ¿O presidente reafirmou seu apoio¿ ao secretário, disse a porta-voz da presidência Dana Perino, que negou que Bush esteja procurando substitutos para Gonzales.

Apesar do esforço para manter Gonzales no cargo, a Casa Branca envia sinais truncados sobre a permanência do secretário. ¿Ninguém é profeta para saber o que ocorrerá nos próximos 21 meses¿, declarou em outra coletiva Tony Snow, também porta-voz da Casa Branca.

A situação de Gonzales piorou ontem depois que o Congresso recebeu cerca de 3 mil páginas de e-mails cedidas pelo Departamento de Justiça. A maioria era de funcionários envolvidos na demissão dos procuradores. Algumas novamente indicavam o envolvimento de Karl Rove, principal assessor político de Bush, na decisão de interferir no Judiciário, substituindo procuradores hostis por outros favoráveis ao governo. Em um e-mail, por exemplo, um assessor de Gonzales demonstra preocupação com o fato de Bud Cummins, um dos demitidos, testemunhar no Congresso. Cummings foi substituído por Tim Griffin, ex-assistente e amigo de Rove.

No fim da tarde, enquanto os democratas preparavam uma estratégia para intimar Rove, a Casa Branca antecipou-se e propôs que Rove e outras pessoas ligadas ao governo, como a ex-conselheira jurídica Harriet Miers, sejam ouvidas pelo Congresso, mas desde que não deponham sob juramento. Os democratas rejeitaram a proposta. A Comissão de Justiça da Câmara pode emitir hoje mesmo intimações para depoimento sob juramento. Bush, porém, prometeu resistir: ¿Vou me opor a qualquer tentativa de intimar funcionários da Casa Branca.¿