Título: Procurador 'leal' entrou na lista por 'má gestão'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2007, Internacional, p. A12

O ¿empregado fiel¿ contratado e demitido pela administração de George W. Bush do cargo de procurador federal em San Francisco era um republicano leal que a administração queria conservar - até surgirem indícios de que ele poderia se tornar um problema de relações públicas. Diferentemente dos outros sete procuradores federais demitidos que podem ter caído em desgraça por razões políticas, Kevin Ryan jogava no time de Bush e era apoiado por republicanos influentes. Um amigo do presidente chegou a sair em defesa de Ryan.

¿Vocês deviam conhecer Kevin¿, disse o professor Rory Little, da Escola de Direito Hastings da Universidade da Califórnia. ¿Não encontrariam um defensor mais firme da agenda do governo.¿

Seu mandato, contudo, foi assolado por problemas morais e acusações de má administração. Alguns dos advogados mais experientes do seu escritório se afastaram.

Apesar desses problemas, que foram bem documentados em jornais especializados, as autoridades do Departamento de Justiça queriam manter Ryan, enquanto arquitetavam a demissão dos outros procuradores federais. Foi somente quando uma juíza democrata ameaçou ir ao Congresso para divulgar à opinião pública uma avaliação escrita arrasadora do escritório de Ryan que ele foi colocado na lista de demissões, segundo e-mails divulgados pela Casa Branca.

Os críticos de Ryan convenceram o Departamento de Justiça de que sua demissão ¿poderia evitar a divulgação de documentos¿ fortemente críticos a seu estilo de atuação, disse Little.

Alguns procuradores federais em San Francisco e Washington ficaram apreensivos desde o começo porque Ryan era um ex-procurador estadual sem nenhuma experiência federal, acrescentou.

Seus esforços para combater a criminalidade comum e as gangues de rua irritaram os outros procuradores para quem o âmbito tradicional do tribunal federal era o crime de colarinho branco, segundo advogados. Segundo Little, o estilo de Ryan era espalhafatoso; ele gostava até de acompanhar agentes do FBI (a polícia federal americana) em ações de busca. ¿O pessoal do Departamento de Justiça se opôs a ele desde o dia em que ele foi nomeado¿, disse Little, um ex-procurador federal em San Francisco.

Apesar do tumulto, o apoio a Ryan em Washington se manteve nos primeiros meses em que as demissões eram tramadas. Num e-mail de D. Kyle Sampson, o ex-chefe de gabinete do procurador-geral Alberto Gonzales, a Harriet Miers, em março de 2005, Ryan figura numa categoria descrita como ¿procurador federal vigoroso que produziu, administrou bem, e mostrou lealdade ao presidente e ao secretário¿.

Semanas depois, Sampson acrescentou Ryan a uma lista de procuradores federais que poderiam ser demitidos com base em avaliações de desempenho. Mas ele foi retirado de listas de demissões posteriores em setembro e novembro, conforme mostram os e-mails.

Em 1º de dezembro, David Margolis, um advogado de carreira no Departamento de Justiça e atual procurador-geral adjunto, disse a Sampson e a outros num e-mail que uma juíza federal, identificada por advogados em San Francisco como Marilyn Hall Patel, ia pedir a membros do Congresso que lhe conseguissem uma cópia das avaliações que o departamento fizera de Ryan.

Uma das avaliações negativas continha comentários de vários advogados que haviam se afastado do escritório de Ryan. No dia seguinte, Michael Elston, chefe de gabinete de um subprocurador-geral, disse a Sampson por e-mail que proteger a confidencialidade da avaliação era ¿algo que deveríamos considerar¿.