Título: Oposição acusa Casa Branca de ocultar e-mails comprometedores
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2007, Internacional, p. A12
Deputados democratas revelaram ontem ter descoberto uma lacuna de 20 dias nos e-mails trocados entre funcionários graduados do governo americano, a maioria a respeito das demissões de procuradores federais ocorridas em dezembro. O pacote de correspondência, com 3 mil páginas, havia sido entregue na terça-feira pelo Departamento de Justiça ao Congresso, que investiga se as demissões tiveram motivação política, como um gesto de cooperação da Casa Branca. O objetivo do secretário de Justiça, Alberto Gonzáles, era mostrar que o governo não tinha nada a esconder. Mas o período em que a troca de e-mails é incompleta, entre 16 de novembro e 7 de dezembro, é justamente o que antecede as demissões.
Uma das últimas mensagens antes da interrupção é de Kyle Sampson, assessor de Gonzales, para Harriet Miers, então conselheira jurídica da Casa Branca. Em 15 de novembro, Sampson disse estar aguardando aprovação do governo para certo plano. ¿Estamos esperando o sinal verde de vocês.¿ Meia hora depois, Miers respondeu: ¿Não tenho certeza se isso será suficiente para chamar a atenção do chefe. Ele viajou na noite passada, portanto não poderei tratar disso nos próximos dias.¿ Não se sabe se Miers, ao dizer ¿chefe¿, referia-se a George W. Bush, mas registros oficiais mostram que o presidente viajou durante as duas semanas seguintes. Coincidentemente, Sampson diz que recebeu a autorização para as demissões em 4 de dezembro, exatamente duas semanas depois.
Depois, os e-mails quase desaparecem. Pelos 20 dias seguintes, há apenas meia dúzia deles, e nenhum volta ao assunto. ¿Se há interrupção nos e-mails, significa que não encontramos nada relevante nesse período¿, disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, que concluiu sugerindo que o hiato pode ter sido causado pelo feriado de Ação de Graças.
Em 7 de dezembro, sete procuradores foram demitidos pelo telefone. Alguns investigavam casos de corrupção envolvendo republicanos, outros teriam se negado a apurar fraudes contra políticos democratas. Bud Cummins, o oitavo procurador, havia sido substituído em junho por Tim Griffin, amigo de Karl Rove, principal assessor de Bush.
Desde então, Gonzales tem sido acusado de ser responsável pelas demissões. A oposição pede sua cabeça, mas Bush nega-se a demiti-lo. O único que perdeu o emprego foi Kyle Sampson, assessor de Gonzales, que pediu demissão na semana passada.
Ontem, a crise se aprofundou depois que o Senado aprovou intimações para que Rove, Miers, Sampson e outros funcionários graduados da Casa Branca sejam ouvido pelo Congresso. A mesma medida foi aprovada quarta-feira pela Câmara. Caso as intimações sejam emitidas, as audiências seriam públicas - não secretas, como queria Bush.
Para evitar que seus aliados tenham de depor sob juramento, Bush ameaçou passar por cima do Congresso, lançando mão do ¿privilégio executivo¿, ferramenta constitucional que veta os depoimentos. Com isso, o impasse poderia chegar à Suprema Corte.
EDWARDS EM CAMPANHA
O senador John Edwards, que disputa a candidatura democrata à Casa Branca, anunciou ontem que continua na briga, apesar da doença de sua esposa, Elizabeth. Em 2004, ela descobriu um tumor no seio e passou por químio e radioterapia. Ontem, o casal anunciou que o câncer voltou. ¿Mas a campanha continua¿, disse Edwards.
BUSH X CONGRESSO
16/2: Câmara aprova, por 246 votos a 182, resolução simbólica contra planos do presidente Bush de enviar um reforço de 21.500 soldados ao Iraque. Apesar de cumprimento não obrigatório, ação exerce pressão política sobre Casa Branca
15/3: Comissão de Apropriações da Câmara aprova plano democrata para retirar tropas dos EUA do Iraque até 1º de setembro. No Senado, democratas não conseguem aprovar lei que determinava retirada em 120 dias
21/3: Comissão de Justiça da Câmara aprova intimações para convocar funcionários da Casa Branca a depor sobre demissão de oito procuradores federais em dezembro
Ontem: Comissão de Justiça do Senado aprova intimações por caso de procuradores, e Senado aprova liberação de US$ 122 bilhões para financiar conflitos no Iraque e Afeganistão, mas com pedido de retirada de tropas até início de 2008