Título: Peso do governo explica diferença, diz economista
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2007, Economia, p. B5
Os novos cálculos do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2000 e 2005, apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira, não comoveram economistas tradicionais do País, como o ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore e Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC. 'É curioso, mas ficamos mais ricos porque descobrimos que o governo gasta mais', destacou Pastore, referindo-se ao aumento da participação do governo nos novos cálculos.
Segundo ele, que participou de seminário no Instituto Fernand Braudel, em São Paulo, o IBGE fez o trabalho que tinha de fazer para melhorar a qualidade dos dados e se adequar ao mercado internacional. Mas, completa o economista, o que dá para perceber até o momento é que a diferença entre o PIB anterior e o de agora é o consumo do governo. 'A fraqueza toda não estava na produção industrial, já que o IBGE tinha feito uma extensa revisão nessa área. O ponto fraco estava num setor chamado governo.'
Pastore destaca que esse aumento do consumo do governo no cálculo do PIB trouxe algumas conseqüências, como a queda do investimento. 'Descobrimos ontem (quarta-feira) que estamos poupando menos e investindo menos. E ainda assim estamos festejando porque ficamos mais ricos. Este é um País extremamente estranho. Festejamos coisas que não deveríamos festejar', observou Pastore, referindo-se à reação do governo e de alguns economistas.
Para Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimentos, nesse ritmo podemos ter uma grande decepção e virar um México. 'Teremos investment grade (grau de investimento), inflação de 4% e juros menores. Mas o crescimento não sairá dos 4%', lamenta. Segundo ele, o problema é que as reformas necessárias para um maior crescimento da economia não sairão do papel e os gastos do governo vão continuar elevados. 'É o mesmo que ocorre no México. Eles não conseguem nem ajustar o mercado de trabalho deles.'
Os dois economistas discutiram também os prós e contras do aumento das reservas do País, hoje em torno de US$ 105 bilhões. Para Goldfajn, o principal benefício é a redução da volatilidade, que beneficia decisões de investimento e o comércio exterior. Além disso, em momento de maior stress como há duas semanas, a moeda do País não oscila de forma tão brusca.
Na avaliação de Goldfajn, acumular reservas é o equivalente a suavizar o movimento do câmbio, ou seja, intervir no mercado de câmbio. 'Mas, quando se está no BC, se foge desta comparação como o diabo da cruz. Eu odiaria se fizessem essa comparação, se eu estivesse lá.'
Goldfajn e Pastore preferiram não falar qual o montante de reservas considerado ideal para o País. Mas, como US$ 160 bilhões é o valor da dívida externa, não há razão para ter reservas acima desse valor, disse Pastore, destacando que o custo de acúmulo de reservas é alto, especialmente num País com taxa de juros elevada como a do Brasil.