Título: Salários têm melhor negociação em 10 anos
Autor: Ramon, Jander
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2007, Economia, p. B6

As negociações por aumentos salariais tiveram no ano passado o melhor resultado nos últimos 10 anos. De acordo com o Balanço das Negociações dos Reajustes Salariais em 2006, divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 86% das 656 negociações de reajuste salarial acompanhadas pela instituição conseguiram aumento acima da inflação acumulada até a data-base da categoria.

O levantamento revelou ainda que em 96% das negociações, em todo País, os trabalhadores asseguraram, pelo menos, a reposição da inflação acumulada até a data-base. Este é o melhor resultado já apurado do Dieese desde 1996, quando o levantamento foi iniciado.

O Dieese informou que, na maioria dos acordos firmados acima da inflação, 74% tiveram até 3% de reajuste acima do INPC - IBGE. Em cerca de 12% das negociações, o aumento real superou 3%, ao passo que entre as campanhas que obtiveram o reajuste abaixo da inflação, ou seja, 4% das negociações, o índice não foi menor do que 1%.

O técnicos do Dieese qualificaram como 'bastante positivos' os resultados das campanhas salariais em 2006 promovidas pelos sindicatos. O bom desempenho foi atribuído também ao fato de a inflação no ano passado ter sido baixa e, ao mesmo tempo, o País ter obtido crescimento econômico, embora insatisfatório.

Este ano as campanhas salariais tenderão também a obter, em sua totalidade, pelo menos a recomposição da inflação acumulada até a data-base das categorias. A projeção é do supervisor do Dieese em São Paulo, José Silvestre Prado de Oliveira, um dos organizadores do Balanço das Negociações dos Reajustes Salariais em 2006.

'Das quase 4% das negociações que ficaram abaixo do INPC-IBGE, em 2006, nenhuma ficou 1% abaixo da inflação. Isso já indica que a tendência é que todas as negociações zerem a inflação', declarou Oliveira, durante a divulgação do estudo.

A visão otimista se justifica, segundo ele, pelo fato de a inflação se manter baixa e sob controle, ao mesmo tempo em que a ocupação de trabalhadores tem crescido, a massa de rendimentos sobe, o salário mínimo tem aumento real, o País mantém rota de crescimento, 'ainda que insuficiente', e os sindicatos estão mais combativos.

'Nesta melhora do ambiente econômico, os sindicatos têm ações de busca para obter,pelo menos, parte da riqueza que as empresas produziram', observou.

Mas, mesmo com o desempenho positivo,os ganhos de 2006, de acordo com o documento, provavelmente ainda não foram suficientes para compensar as perdas salariais apuradas entre os meados da década de 90 e início do ano 2000.

Entre 1996 e 2003, cerca de 43% das negociações terminaram em reajustes inferiores ao INPC-IBGE. O documento lembra que, em 2003, quando foi constatado o pior resultado das negociações salariais desde que o Dieese passou a acompanhá-las, quase 60% das negociações observadas não garantiram a reposição inflacionária e menos de 20% obtiveram aumentos reais de salários.

Para o supervisor do Dieese, a baixa inflação e Produto Interno Bruto (PIB) são condicionantes necessárias para garantir um melhor desempenho dos sindicatos nas negociações. Simultaneamente, alegou o especialista, os aumentos concedidos pelo governo ao salário mínimo acima da inflação têm influenciado as categorias a pleitearem reajustes maiores, sobretudo para os pisos salariais.

'O mínimo cresce, este ano, cerca de 3% acima da inflação, o que se torna um farol para os sindicatos estabelecerem reivindicações para os pisos', disse Oliveira.