Título: 'Só quero dizer ao Lula e ao Brasil que sou honesto'
Autor: Nossa, Leonencio e Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2007, Nacional, p. A4

O deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) se defendeu ontem das denúncias, alegou que nem sabe direito por que foi acusado e deixou o presidente Lula à vontade para decidir sobre sua nomeação. ¿Só quero dizer ao Lula e ao Brasil que sou honesto¿, disse o peemedebista, em entrevista ao Estado.

Balbinotti explica o aumento de 2.135% do patrimônio - ¿cresci porque tive visão¿. Explica que comprou áreas em Mato Grosso a preço baixo, mas ¿o desenvolvimento e o progresso supervalorizaram as terras¿. Abaixo, a entrevista:

O senhor tem condições de ser ministro depois da revelação que responde a um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por falsidade ideológica?

Não estou preocupado com ministério. Estou preocupado com meu nome limpo. Se o presidente Lula entender que devo ser seu ministro da Agricultura, farei tudo com muita transparência e muita honestidade, como fiz tudo até hoje, para colaborar com meu País.

O sr. acha que o presidente Lula vai sustentar o convite?

Depende da decisão dele. Eu não estou preocupado com isto, porque estou tranqüilo quanto à minha inocência. Não quero prejudicar o presidente nem o governo. O Lula não tem culpa de nada. Só quero dizer ao Lula e ao Brasil que sou honesto.

O sr recebeu sinais de que vai ser desconvidado?

Quero deixar o presidente muito à vontade. Pedi ao Temer que dissesse isto a ele.

O sr. se arrepende de ter incluído o nome na lista de ministeriáveis?

De jeito nenhum. Estou feliz, orgulhoso e grato por ter sido lembrado.

O que se diz na bancada da Câmara é que seu nome era o preferido no Planalto, não dos deputados.

Não acredito que seja isto, porque tivemos uma reunião da bancada, com quase que a totalidade dos deputados, onde eu obtive o apoio em plenário.

Como o senhor explica o crescimento de 2.135% no patrimônio?

Nunca roubei. Sempre fui correto com meus negócios e com o Fisco, porque registro tudo no Imposto de Renda. É por isto que apareço em segundo lugar na lista dos deputados mais ricos do País. Minha declaração de renda é real.

Como o senhor conseguiu ser tão bem-sucedido na agricultura?

Cresci porque tive visão. Não entrou dinheiro no caixa da fazenda. Primeiro, enxerguei longe quando comprei terras baratíssimas em Mato Grosso. Quando fui para Mato Grosso, era só cerrado, a terra não valia nada. Vendi 10 alqueires no Paraná e comprei mais de mil alqueires em Mato Grosso. O desenvolvimento e o progresso do Estado é que supervalorizaram as terras. É isto que gera a dúvida do meu patrimônio. O que fizemos, agora, foi corrigir o valor patrimonial das terras, o que gerou essa dúvida. Quando se vai contrair empréstimo com bancos ou empresas, é preciso ter um lastro e o lastro que temos é o nosso patrimônio.

O senhor está sendo acusado de produzir documento falso para dar suporte a um contrato de securitização de dívida...

Isto é mentira. Estou triste, abalado, indignado, porque, quando a gente não deve, faltam palavras para dizer da tristeza que tenho. Nada dos meus contratos é irregular. Todos os contratos de parceria são regulares, legais, porque as parcerias eram reais. Por isto existem contratos registrados. Os parceiros são anteriores à contratação da securitização. Os parceiros já trabalhavam conosco e tinham um percentual da colheita. A parceria era paga em soja.

Se estava tudo correto, porque o sr foi denunciado?

Não sei bem por que. Um dos parceiros deixou a fazenda para tocar seu próprio negócio e talvez não se lembrasse do contrato de parceria que assinou comigo quando foi ao banco contrair novo empréstimo. Foi informado de que devia uma quantia grande, porque o banco mencionou o valor total da securitização, feita com todos os parceiros, e ele se assustou. Quem não se assustaria com o banco falando que você deve dez vezes mais?

O senhor é sócio do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi?

Não. Existe uma fundação de desenvolvimento e pesquisa para melhoramento genético em Mato Grosso, há mais de dez anos, sem fins lucrativos, formada por muitos agricultores e empresários agrícolas, dentre eles o agora governador de Mato Grosso e eu.