Título: Divisão do Maranhão pode ajudar clã Sarney
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2007, Nacional, p. A10

Um Estado para chamar de seu. Fora do poder estadual desde o final de 2002 e tendo de esperar mais quatro anos para tentar reavê-lo, o ex-presidente da República e senador pelo Amapá José Sarney (PMDB) pode beneficiar-se de um atalho traçado por seu velho e incondicional aliado, o senador Edison Lobão (PFL-MA), que propõe a criação do Estado do Maranhão do Sul. Ao fim do mandato do atual governador, Jackson Lago (PDT), a família Sarney, que por 40 anos comandou o Estado, estará quase uma década fora do governo maranhense.

A emenda de Lobão, aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, autoriza a realização de um plebiscito para dividir o Maranhão em dois.

Sarney amarga há quase cinco anos a infidelidade política de um ex-aliado, José Reinaldo, que assumiu o governo no último ano de mandato da então governadora Roseana Sarney, de quem era vice. Roseana se desincompatibilizou para concorrer à Presidência da República, mas acabou forçada a disputar a vaga para o Senado, após o caso Lunus, escândalo de caixa 2 que inviabilizou sua campanha presidencial em 2002. Uma vez no governo, José Reinaldo ganhou vôo próprio, rejeitou aliança com Sarney e reelegeu-se no cargo. Depois dele, Roseana tentou voltar, mas foi derrotada por Jackson Lago.

Lobão justifica sua proposta como decorrente da pobreza do Estado. Alega que a divisão ajudaria a combatê-la. Para ele, mais difícil do que aprovar o projeto na Câmara, é conseguir convencer a maioria dos eleitores, que estão do lado norte do Estado. ¿O Maranhão é um Estado pobre, muito pobre. O que eu estou querendo é acelerar o crescimento de um lado e do outro, sobretudo o do Maranhão do Sul.¿

Roseana afirma que não tem nada que ver com a idéia do colega. ¿O projeto está há muitos anos Câmara¿, argumenta, referindo-se a proposta similar do deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA), que será anexado ao de Lobão, se este for ratificado pelo plenário do Senado. Diz ainda que não tem motivação política para separar a parte do Estado onde obteve maior votação. ¿Ali eu perdi em Imperatriz, da mesma forma que ocorreu em São Luís.¿

Madeira afirma que a divisão ¿é vontade unânime da população e de todas as correntes políticas¿. Segundo ele, quem mudou foi Roseana, que quando governadora rejeitou a idéia, alegando que ¿uma mãe não pode se separar de seus filhos¿.

Lobão afirma que o primeiro projeto de divisão, do ex-deputado Davi da Silva, foi proposto quando da Constituinte de 1998.

Ex-desafeto e hoje aliado dos Sarneys, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) também acha difícil os eleitores opinarem pela divisão do Estado. Ex-governador, Cafeteira admite que o Sul é ¿pouco lembrado¿.

Ele nega a possibilidade de a iniciativa restaurar o poder do clã Sarney em qualquer um dos lados. Ao contrário, acha que os principais beneficiados no sul serão os parlamentares que carregarem a bandeira da divisão. Ou seja, Madeira ou Lobão.