Título: Mais um 'grande salto' chinês
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2007, Internacional, p. A14

A China nos habituou aos ¿grandes saltos para frente¿. O primeiro, de 1958, com Mao Tsé-tung, forjou as bases da economia comunista. Hoje, em vez de forjar ¿o comunismo¿, ela pretende antes dissolver o socialismo em estruturas cada vez menos estatais, cada vez mais liberais. A China deu um salto para a economia de mercado.

O projeto de lei que garante a propriedade privada tem uma história atribulada: há 13 anos ele é debatido. Já foi rejeitado sete vezes de tanto que chocava aos velhos comunistas. Para eles, a lei desconstruiria toda a economia ¿estatal¿, um pouco como um pulôver se desmancha se uma de suas malhas fundamentais afrouxar.

Na internet, um texto denuncia a ¿traição do socialismo¿ e acrescenta: ¿Os corruptos que se apropriaram dos bens de modo fraudulento vão legalizar suas aquisições.¿ O vice-presidente do Comitê Permanente da Assembléia Nacional Popular, Wang Zhaoguo, replica: ¿O desenvolvimento trazido pela política de reformas e de abertura causou uma melhora geral e convém proteger o direito dos cidadãos.¿

Artigos foram acrescentados ao projeto para assegurar também a proteção das propriedades do Estado e das coletividades. Mas que ninguém se iluda: a propriedade privada é a verdadeira ¿jóia¿ da China. O setor estatal se torna o ¿primo pobre¿.

Outro projeto dá uma idéia do dinamismo da China. Antes, os investimentos estrangeiros pagavam impostos de 15% dos lucros nos dois primeiros anos, enquanto as empresas chinesas eram taxadas em 33%. No futuro, os estrangeiros terão de arcar com impostos de 25% dos lucros - sinal que o país já não precisa conceder vantagens exorbitantes para atrair investidores.

Além disso, o primeiro-ministro Wen Jiabao publicou uma coluna no Diário do Povo para dizer que não há incompatibilidade entre o sistema socialista e a democracia. E precisou: ¿A democracia, o Estado de direito, os direitos humanos, não são exclusividades do capitalismo.¿ Ora, ora! Eis uma bela novidade! Um novo salto para frente se prepara, mas desta vez na direção da democracia.