Título: Evo afirma que antecipará eleições
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2007, Internacional, p. A20
O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou ontem que reduzirá seu mandato e convocará eleições gerais antecipadas quando a nova Constituição do país entrar em vigor, em 2008. Evo, que tomou posse para uma período de cinco anos em janeiro do ano passado, não disse se será candidato à reeleição nem especificou quando as eleições seriam realizadas.
A ação o aproxima do presidente venezuelano, Hugo Chávez - que tomou posse em 1999, mas convocou novas eleições em 2000, após a promulgação de uma nova Carta.
¿Temos a obrigação de servir ao povo no curto tempo que temos¿, disse Evo. ¿Nosso pedido é que a Assembléia Constituinte termine seu trabalho este ano. Se isso ocorrer, no ano que vem teremos uma nova eleição para presidente¿, completou o governante indígena durante um discurso na cidade de Warnes, no Departamento (equivalente a Estado) de Santa Cruz.
O anúncio, transmitido ao vivo pela emissora de TV estatal, foi feito na presença do governador de Santa Cruz, Rubén Costas, um dos líderes da oposição direitista que também teria seu mandato reduzido pelas novas eleições.
Com a redução do tempo de mandato servindo como pano de fundo, o presidente boliviano deixou de lado os discursos de choque com a oposição e convidou Costas e outros integrantes da oposição a trabalhar de maneira coordenada com o governo. ¿Quero servir ao povo da melhor maneira neste curto tempo que passarei pelo palácio do governo¿, afirmou Evo.
A Assembléia Constituinte está estabelecida em Sucre, capital oficial da Bolívia, há sete meses e tem até agosto para aprovar uma nova Constituição - que entrará em vigor se ratificada num plebiscito previsto para o fim do ano. Evo espera que a nova Constituição lhe dê condições para, em suas palavras, ¿refundar a Bolívia¿ - revertendo a situação de pobreza principalmente da maioria indígena.
Evo venceu as eleições de dezembro de 2005 com 54% dos votos, após um longe período de crise social e institucional - durante o qual dois presidentes foram forçados a renunciar em meio a protestos populares. Na sua gestão, Evo (que também é líder dos produtores de folha de coca) decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos (petróleo e gás), lançou uma ¿revolução agrária¿, deu início a campanhas de alfabetização e saúde e pôs em marcha o que chamou de uma ¿segunda nacionalização mineral¿. Evo pretende consolidar essas e outras reformas com a nova Constituição, cuja redação está nas mãos de uma Assembléia que enfrenta a oposição de partidos e regiões conservadoras - como Santa Cruz -, que demandam autonomia administrativa.