Título: Provinha já é adotada por 4 Estados
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2007, Vida&, p. A24

A aplicação de uma prova para avaliar a alfabetização de crianças aos 8 anos de idade, a Provinha Brasil, anunciada anteontem pelo governo federal como uma das iniciativas para melhorar o ensino básico no País, já é adotada em pelo menos quatro Estados. Minas, Pernambuco, Goiás, além de Sobral e outros municípios menores do Ceará, incluíram exames no fim da 2ª série - onde há ensino fundamental de nove anos, é na 3ª.

O argumento para justificar a avaliação precoce é a possibilidade de perceber o quanto antes as falhas na escrita e leitura dos alunos. Atualmente, o Ministério da Educação avalia os estudantes na 4ª e 8 séries do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio, por meio da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Em Minas, o Estado pioneiro, a prova do ano passado mostrou que 17% dos alunos tiveram desempenho considerado baixo, ou seja, conseguiram apenas ler e escrever palavras soltas, sem compreender frases ou textos curtos. Para piorar, em 88 escolas nenhum aluno conseguiu sair desse nível. Na outra ponta, 61% ficaram no nível intermediário e 21% foram capazes de atingir o esperado, que é ler e entender textos pequenos, resultado atingido por todos os alunos de 54 unidades.

INTERVENÇÃO

¿Adotamos ações imediatas. Todos os alunos que ficaram no nível considerado baixo estão fazendo aulas de reforço desde outubro e serão reavaliados. Nas escolas problemáticas, mudamos os professores, como uma intervenção¿, afirma a secretária de Educação de Minas, Vanessa Guimarães Pinto. ¿Temos também muitos professores temporários, e nas escolas onde mais de 40% dos alunos foram ruins, dispensamos e buscamos outros docentes. Foi um processo que provou um ruído na rede, mas foi necessário¿, explica a secretária.

Neste ano a prova será feita novamente e será possível comparar os resultados pela primeira vez. Isso porque, apesar de ter iniciado algum tipo de avaliação desde 2000, os exames eram por amostragem e com metodologias diferentes. Mesmo assim, para se ter uma idéia, em língua portuguesa os alunos de Minas tiveram desempenho acima da média do País no Saeb: 190,5 pontos ante 172,3.

Em Pernambuco, os estudantes no fim do primeiro ciclo de alfabetização também fizeram provas do Saep, a avaliação do Estado. Os resultados de 2005 ainda não foram divulgados. Mas, de acordo com dados da versão de 2003, 1 em cada 5 alunos não dominava aspectos básicos da leitura, como reconhecer palavras em textos, mesmo com gravuras. E 71% deles não acertaram mais que metade da prova.

¿Tentamos implementar o monitoramento dos que têm baixo desempenho e criar classes para corrigir a distorção de idade e série. Aqui, na 2ª série já temos muitos alunos mais velhos¿, diz Epifânia Valenço, da Secretaria de Educação de Pernambuco.

Em Goiás, o sistema é diferente e funciona em parceria com a Fundação Ayrton Senna. Outra experiência é a de Sobral, no Ceará, que servirá de modelo para o Estado. Lá, em parceria com o Unicef, a avaliação feita em 2000 e 2004 já trouxe resultados. Na primeira, 50% dos alunos terminavam a 2ª série sem conseguir ler palavras. Após quatro anos, o número caiu pela metade.

¿Nosso maior problema é a distorção de idade e série e a dificuldade da alfabetização, por isso a experiência de Sobral vai neste ano ser expandida para o Estado¿, diz Aléssio Costa Lima, responsável pela avaliação da Secretaria da Educação do Ceará.

¿Aos 8 anos a criança tem condição e precisa estar alfabetizada. Avaliar nesse momento propicia mecanismos para o gestor interferir a tempo, propor mudanças pedagógicas¿, diz o educador Mozart Neves, ex-secretário da Educação de Pernambuco e diretor-executivo do movimento Todos pela Educação, formado por empresários.

Para o educador Cláudio Moura e Castro, qualquer avaliação na fase de alfabetização pode contribuir para a qualidade do ensino, desde que seja bem aproveitada pelos educadores. ¿Não adianta só o secretário de Educação entender que é importante, é preciso que todos os professores da rede consigam entender isso.¿