Título: 'Mercado está em alerta para riscos'
Autor: Velloso, Thiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2007, Economia, p. B10

O mundo não caminha para uma crise, mas os mercados começam a acordar para as distorções nos preços e nas avaliações de risco que puseram o sistema financeiro em alerta nas últimas semanas, por causa da queda das bolsas asiáticas. E os riscos podem ser maiores do que se supunha. Essa é a visão do economista-chefe interino do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Eduardo Lora, entrevistado pelo Estado na Guatemala, onde o banco realiza sua reunião anual.

Para o executivo, que acaba de assumir o posto de economista-chefe, não se deve descartar uma recessão na economia americana, tampouco prever uma desaceleração do crescimento muito acima do esperado na economia dos Estados Unidos. É preciso também, segundo ele, ficar atento aos novos riscos, como o das operações ¿carry trade¿ - quando o investidor toma dinheiro em um país para investir em outro. A seguir, trechos da entrevista.

Qual sua avaliação da recente volatilidade causada pelas perdas nos mercados asiáticos?

As lições desse movimento são muito interessantes. A primeira é que se pôde perceber o quão integrados estão os mercados. Vemos que os reflexos no mundo desenvolvido por causa da volatilidade não foram diferentes da América Latina, e isso é interessante, já que não era o padrão em situações similares anteriores. Isso nos diz que a estratégia de acumular reservas e usá-las para proteção é o caminho correto. Para a economia global, a lição também é clara: os mercados agora sabem que vários riscos foram negligenciados ou não tiveram um preço ajustado ao seu tamanho.

E quais são esses riscos?

Uma grande parte do risco vem do mercado imobiliário americano, mas o mercado ainda procura informações quanto ao seu tamanho. É possível dizer isso porque, de todas as reações após a queda de Xangai, as mais comuns foram a busca de informações nesse mercado. Outra grande área de preocupação são as operações de ¿carry trade¿. Acho que isso é grande, mas ninguém sabe ao certo qual o risco atrelado a essas operações. A valorização do iene logo após o problema na China é um grande indicativo disso.

O sr. vê risco de recessão nos EUA?

Não podemos descartar isso completamente, mas as chances são razoavelmente pequenas. Entretanto, o humor dos analistas tem mudado bastante nos últimos meses e os indicadores não têm mostrado tendência positiva ou negativa. Portanto, as expectativas ainda não estão ancoradas. Mesmo assim, não espero um ¿hard landing¿ na economia americana.

E quanto ao Brasil? Qual sua visão da economia brasileira?

É muito importante dizer que o Brasil conseguiu melhorar sua situação macroeconômica de forma incrível nos últimos dez anos. Olhando todos os indicadores básicos da economia brasileira, o que vemos é uma melhora impressionante. Entretanto, o País tem um óbvio problema com o crescimento. Até para os modestos parâmetros latino-americanos o crescimento brasileiro é muito baixo e isso, provavelmente, se repetirá este ano.

E como resolver essa questão?

Todos nós sabemos as razões do baixo crescimento do Brasil: a combinação de juros altos e uma carga tributária muito elevada, com a complicação de que os impostos altos também são fruto de um sistema tributário muito complicado.