Título: Incerteza persiste. Bolsas reagem
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2007, Economia, p. B4

As bolsas de valores interromperam ontem uma seqüência de quedas e subiram no mundo todo. Como nos últimos dias, o movimento começou na Ásia, onde a Bolsa de Xangai avançou 2% e a de Tóquio, 1,20%. Nos Estados Unidos, o Índice Dow Jones registrou alta de 1,30% e a Nasdaq, de 1,90%.

No Brasil, a Bolsa de São Paulo (Bovespa) viveu momentos de euforia, que levaram o Ibovespa a fechar na máxima cotação do dia, em alta de 4,95%. Analistas creditaram a melhora a fatores técnicos e não se arriscaram a dizer que a tendência negativa foi revertida.

'Na verdade, ninguém sabe direito por que melhorou', reconheceu Alexandre Sant'anna, economista da Arx Capital Asset Management. Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimentos, tentou uma explicação. 'Alguns ativos ficaram baratos após as quedas dos últimos dias e houve investidores que viram boas oportunidades para comprar', afirmou. Clodoir Vieira, economista da Corretora Souza Barros, confirmou a hipótese de Sandra. 'Algumas ações tiveram desvalorizações bruscas e ficaram baratas.'

Ele citou como exemplo os papéis da Vale do Rio Doce e da Petrobrás, os dois mais negociados na Bovespa. As ações PNA da mineradora despencaram 13,2% entre o início das turbulências, terça-feira passada, e segunda-feira desta semana. Ontem, dispararam 8,41%. Os papéis preferenciais da Petrobrás perderam 11,9% no mesmo período e ontem avançaram 4,08% (ver gráfico acima).

A recuperação de ontem surpreendeu porque houve motivos variados para que o mau humor continuasse imperando. O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan voltou a afirmar que os Estados Unidos podem ter uma recessão em breve. Em entrevista à agência Bloomberg, Greenspan disse que há 'um terço de probabilidade' de os EUA entrarem em recessão ainda neste ano.

Alguns indicadores sobre a economia americana vieram abaixo da expectativa dos analistas. As encomendas à indústria do país, por exemplo, recuaram 5,6% em janeiro, a maior perda desde julho de 2000. A previsão dos analistas era de uma queda de 4,5%.

O crescimento da produtividade em 2006 foi revisado para baixo, mas, em compensação, ficou dentro do esperado. A expansão do indicador foi alterada de 3% para 1,6% - a projeção dos analistas era de 1,5%. O custo da mão-de-obra em 2006, por sua vez, subiu 3,2%, em média, o maior aumento desde 2000. Por fim, o índice de vendas de imóveis pendentes de janeiro caiu a uma taxa anual de 4,1%, para 108,7 - 8,9% abaixo do nível de janeiro de 2006.

CONSOLIDAÇÃO

Para Sandra, do BES, a manutenção da tendência positiva depende da consolidação de três fatores. O primeiro deles é o mercado imobiliário americano. O segundo é a evolução do mercado de hipotecas nos Estados Unidos - o segmento conhecido como subprime, voltado para os clientes de maior risco, tem apresentado problemas de inadimplência.

O terceiro ponto destacado por ela é como se dará o desmonte das operações de carry trade - nas quais o investidor toma dinheiro emprestado em países com taxa de juros baixa, como o Japão, para aplicação em países com juro alto, como o Brasil. 'Ainda falta solidez para dizer que o choque já acabou', disse Sandra. Sant'anna, da Arx Capital, concorda. 'Não dá para fugir do jargão: o momento ainda é de volatilidade.'