Título: Família espera pagamento de terreno há 12 anos
Autor: Gobetti, Sérgio e Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2007, Nacional, p. A4

¿Quando vemos um marginal que seqüestra alguém, a gente fica indignado, mas trata-se de um criminoso. Mas quando é o poder público que seqüestra e tira do cidadão o seu bem e ainda por cima não paga, o que pensar?¿ A pergunta carregada de indignação é da dentista Alice Izzo, de 59 anos, que desde 1995 tem um precatório familiar de R$ 10 milhões a receber da Prefeitura de São Paulo.

¿Não há lei, não há Justiça. Se aprovarem essa mudança na forma de pagamento dos precatórios, a situação vai ficar ainda mais complicada. Será que meus netos conseguirão receber?¿ São várias as perguntas sem respostas feitas pela dentista. Certeza mesmo, ela diz ter apenas uma: ¿Isso é um grande calote.¿

Como a família Izzo, existem muitos credores que têm dinheiro a receber da prefeitura paulistana e do governo de São Paulo e até hoje brigam judicialmente para fazer cumprir decisões passadas. Estudo da consultoria Austin Rating mostra que a prefeitura da capital tem R$ 18 bilhões em precatórios a ser pagos.

¿A maior parte dos Estados e municípios continua inadimplente e as sanções funcionam mal, os seqüestros de renda levam anos e muitas vezes não são efetivados¿, afirma o presidente da Comissão de Precatórios da OAB-SP, Flávio Brando.

No caso da família Izzo, a pendência decorre de desapropriação de 55 mil metros² em 1989, na gestão de Luiza Erundina. Após deslizamento de terra na favela Nova República, a prefeitura desapropriou o terreno da família que, segundo Alice, viraria um loteamento popular.

Segundo ela, o valor depositado pela prefeitura na época daria para comprar um par de tênis. Em 1995, a família ganhou na Justiça o direito a receber R$ 10 milhões, tornando-se um precatório. ¿Recebemos apenas três parcelas. A última, em fevereiro, foi por meio de seqüestro de bens¿, disse a dentista.