Título: PF indicia Jefferson por formação de quadrilha
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2007, Nacional, p. A6
O deputado cassado Roberto Jefferson (RJ), presidente nacional do PTB, foi indiciado ontem por formação de quadrilha no inquérito da Polícia Federal que apura denúncias de irregularidades na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Aberto em maio de 2005, o inquérito desmantelou um gigantesco esquema de arrecadação de propina, licitações dirigidas e superfaturamento de preços montado na estatal por partidos governistas.
Até agora, oito pessoas foram indiciadas, incluindo dirigentes, fornecedores e funcionários dos Correios. O relatório final deve ser enviado à Justiça até amanhã.
À saída do depoimento de duas horas, na sede da PF, Jefferson declarou-se vítima do ¿marketing policial do governo Lula¿. Ele acusou a instituição de agir como polícia política do governo para perseguir adversários. Afirmou também que o procurador Bruno Acioli, que atua no caso, é ¿um moleque de recados do PT¿, um ¿homúnculo¿ e um ¿boboca¿. O indiciamento, a seu ver, baseou-se em trechos do seu livro, Nervos de Aço, no qual detalha o que chama de aparelhamento dos órgãos públicos.
A PF informou, todavia, que o indiciamento baseou-se em critério técnico, no depoimento de pessoas ligadas a três empresas que confirmaram ter pago propina e na constatação de que Jefferson indicou pessoas não para trabalhar na estatal, mas para levantar fundos para o PTB.
Por nota, Acioli lamentou os ataques e disse que o Ministério Público é instituição apartidária. Afirmou ainda que, caso sejam comprovadas as irregularidades, buscará punir os responsáveis. ¿Também é importante ressaltar que todas as operações foram feitas de forma legal, obedecendo ao que rege a lei e devidamente respaldadas por ordem judicial¿, acrescentou.
A Associação Nacional dos Procuradores também divulgou nota de desagravo em favor de Acioli. A entidade ¿lamenta e reprova o tom deselegante¿ com que Jefferson se referiu ao procurador, ¿extrapolando os limites do direito de crítica¿.
Jefferson, entretanto, disse que o indiciamento foi baseado em dados subjetivos e prometeu enfrentar tanto a PF como o MP. ¿É um indiciamento anunciado na imprensa.¿ Para ele, a perseguição política se estende até a aliados incômodos, como no caso do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que teve o indiciamento pedido no caso do dossiê Vedoin, mas posteriormente revisto a pedido da Procuradoria-Geral da República.
O presidente do PTB foi o responsável pela divulgação, em 2005, do esquema do mensalão. O estopim para Jefferson fazer a denúncia foi a divulgação de fita de vídeo que mostrava o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina. Citado como chefe do esquema na estatal, Jefferson disse que os pagamentos mensais a aliados no Congresso chegavam a R$ 30 mil e eram feitos por movimentações financeiras do publicitário Marcos Valério.
Indagado se essas feridas teriam motivado vinganças do PT e do governo, ele disse que sim. ¿Mas rasguei a roupa do PT, partido que posava de vestal do Brasil.¿ Para o ex-deputado, uma comparação entre o empresário Paulo César Farias, o PC, com o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e Marcos Valério mostraria que ¿PC é um menino de procissão¿.
`NEGÓCIOS¿
Ele disse que é contra a participação do PTB no governo Lula, mas se rendeu à posição da bancada. ¿Não quero apoiar o governo, mas não impeço meus companheiros de fazê-lo.¿ Alegou, porém, que não quer mais troca de cargos. ¿Cargo gera negócios e dá isso¿, disse, apontando para o prédio da PF.
Jefferson acha que aparelhamento de estatais para arrecadação de fundos persiste. ¿Quando ministro é chamado de herói porque ganha R$ 8 mil é mau sinal. Está lá para fazer recurso para o partido dele. Não é herói de nada. O ministro vai para lá indicado por partido para fazer negócio para o partido. Infelizmente isso continua.¿
FRASES
Roberto Jefferson Presidente do PTB
¿É uma coisa subjetiva e não há nenhum fato concreto. É um indiciamento anunciado na imprensa¿
Bruno Acioli Procurador federal
¿Todas as operações foram feitas de forma legal, obedecendo o que rege a lei e devidamente respaldadas por ordem judicial¿
COMO TUDO COMEÇOU
Flagra em vídeo
Em maio de 2005, o chefe do Departamento de Contratação e Administração dos Correios, Maurício Marinho, é flagrado recebendo propina de R$ 3 mil. Na gravação, Marinho descreve esquema de arrecadação de recursos para o PTB, que, segundo ele, era capitaneado por Roberto Jefferson
O mensalão
Acuado com as denúncias de comandar o loteamento de cargos nos Correios, Jefferson denuncia, em junho do mesmo ano, o esquema do mensalão e envolve no caso dirigentes petistas e a alta cúpula do governo Lula, como o então ministro José Dirceu
Cassação
Em decorrência de denúncias envolvendo os Correios e daquelas que ele próprio fez - Jefferson admitiu ter recebido o mensalão -, ele foi o primeiro a ter o mandato cassado, em setembro de 2005. José Dirceu (PT) e Pedro Corrêa (PP), também perderam mandato. Dos outros 15 acusados, 4 renunciaram e o restante foi absolvido