Título: Collor manda ex-inimigos se calarem
Autor: Nossa, Leonencio e Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2007, Nacional, p. A11

De volta ao Palácio do Planalto pela primeira vez desde o impeachment, o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL) disse ontem que quem o chamou de ladrão no passado agora tem de se calar. Ele se referia ao coro que ouviu, no dia 2 de outubro de 1992, ao deixar o palácio de helicóptero. ¿Essas pessoas todas têm de calar agora, porque eu sou inocentado pelo Supremo Tribunal Federal¿, afirmou, referindo-se à decisão do STF de absolvê-lo das denúncias de corrupção.

Ao chegar para uma audiência da bancada do PTB com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por volta de 17h30, Collor foi questionado pela imprensa se se lembrava da reação de funcionários e curiosos que acompanharam aquele momento - quando se afastava temporariamente do poder.

O ex-presidente entrou ontem no Planalto pela portaria da frente sorrindo, com a pose confiante dos velhos tempos. ¿Não estou tentando provar nada, fui vítima de uma injustiça¿, afirmou. Indagado se sua volta à política significaria uma vitória da impunidade, ele riu: ¿É cada pergunta que eu vou te contar... Não, absolutamente, ao contrário.¿

Ele disse que não tem saudade do palácio, mas admitiu ¿uma sensação boa¿ ao retornar ao prédio onde viveu o auge da carreira política. Agora filiado ao PTB, Collor cumpriu o papel de integrante da base aliada de Lula. ¿A expectativa é de que o encontro se desenvolva e possamos trabalhar pelo desenvolvimento do Brasil¿, disse ele, antes de ser recebido pelo presidente. Ao fim do encontro, disse que se emocionou ao reencontrar e abraçar Lula. ¿Nunca fui inimigo dele¿, afirmou.

FILME

Na conversa de duas horas, nenhum dos dois teria relembrado a disputa de 1989. Naquela campanha, Lula acusou o então adversário de ¿jogo sujo¿. ¿É como se fosse uma coisa que nem sequer tivesse ocorrido¿, disse Collor ao deixar o palácio. ¿Esse filme não passou na nossa conversa, o presidente foi carinhoso.¿

Na longa audiência, Lula não teria nem mesmo feito comentários sobre o processo de impeachment de 1992. Sobre aquela época, teria apenas perguntado a Collor onde ficava sua mesa no gabinete do terceiro andar do palácio, ouvindo como resposta que ela ficava onde hoje está uma mesinha de canto.

O senador afirmou que as divergências com o presidente estão superadas. ¿Quem está na vida pública sabe gerenciar muito bem o que são passagens no calor e no fragor de uma campanha e o que são passagens de um tempo normal¿, disse. ¿A sensação é que eu tinha estado com o presidente ontem.¿

Collor nega que queira reescrever a história. ¿Não é a questão de se reescrever a história, o que se faz é interpretar a história¿, disse. ¿O que eu estou fazendo nestes dias é dar a minha interpretação dos fatos históricos que marcaram 1992.¿

Já Lula não fez declarações públicas sobre o encontro. Durante a campanha do segundo turno, no ano passado, o presidente e então candidato à reeleição disse em discurso no Palácio da Alvorada que pretendia ouvir as propostas do novo senador de Alagoas.