Título: Coca-Cola compra Leão Júnior por R$ 230 milhões
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2007, Negócios, p. B20

A Coca-Cola anunciou ontem a compra da empresa paranaense Leão Júnior, dona da marca Matte Leão, após seis meses de negociação. A aquisição, avaliada em torno de R$ 230 milhões, é a terceira feita pela multinacional no País em um ano e meio e é mais uma amostra do apetite da companhia por bebidas alternativas, o mercado que mais cresce atualmente no mundo.

A Coca está levando uma empresa saudável, líder nacional na venda de chás, com um portfólio de 60 produtos e três fábricas em operação. A Leão faturou R$ 158,9 milhões em 2006, 18,4% a mais que no ano anterior, e teve um lucro de R$ 25,3 milhões, 125% maior que o registrado em 2005. 'Para a Coca, essa compra é a continuação de um processo iniciado em 2004 para acelerar o lançamento de novas marcas e diversificar a linha de produtos', diz o diretor de novas bebidas da Coca, Sandor Hagen. Segundo o executivo, a empresa tem planos de levar a marca para outros países.

O negócio ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Como a Coca já possui a marca Nestea em sociedade com a Nestlé, a compra da Leão dará a multinacional a liderança absoluta do segmento de chás prontos para beber no Brasil. Caso a compra seja autorizada pelo Cade, a Coca dominará, sozinha, 70% do mercado. O segundo colocado, Lipton - marca da Unilever, administrada pela Pepsi e distribuída pela Ambev - tem 24,7% de participação, segundo dados do instituto AC Nielsen.

Na categoria de chás secos, a marca Matte Leão responde por 65,5% do mercado. Segundo o executivo da Coca, outras três empresas negociaram a compra da Leão. Especula-se que entre os interessados estavam a Tata Tea, do grupo indiano Tata, a Danone e a Kraft.

POTENCIAL

No Brasil, o mercado de chás prontos para beber ainda é pequeno - movimenta em torno de R$ 150 milhões -, mas tem revelado potencial de crescimento. De acordo com a consultoria Euromonitor, esse segmento cresceu 9,5%, em média, na última década, enquanto o de refrigerantes, bem mais maduro, teve alta de 2,4%.

A linha seca ainda é a maior fonte de receita da companhia, mas nos últimos dois anos a Leão Júnior começou a apostar mais na categoria de chás prontos para beber. Ela lançou produtos, renovou embalagens e investiu mais em marketing e distribuição. 'Dentro da empresa, alguns acionistas discordavam dessa aposta, mas o Renato Barcellos (presidente desde 2005) insistiu nessa direção', diz Antônio Joaquim da Motta Carvalho, sócio-diretor da empresa de recrutamento de executivos Panelli Motta Cabrera, contratada pela Leão para profissionalizar a empresa. 'Ela aumentou o mix de produtos, o que acabou refletindo numa boa melhora do lucro.'

Barcellos foi contratado há dois anos com a missão de preparar a Leão Júnior, uma empresa familiar e centenária, para crescer num mercado cada vez mais cobiçado por multinacionais como a Coca-Cola e a Pepsi. 'A Leão sempre foi uma empresa lucrativa, com uma marca forte e bons produtos. Mas o que preocupava os donos naquele momento era a entrada de grandes empresas nesse mercado', diz Wagner Teixeira, sócio da Bernhoeft Consultoria, contratada pela Leão em 2004 para conduzir o processo de governança corporativa na companhia. 'Os acionistas queriam que a empresa estivesse bem, fosse para disputar com os grandes ou para ser vendida', completa Teixeira.

Segundo ele, naquela ocasião, o ponto mais frágil da Leão, bastante característico de empresas familiares e de controle extremamente pulverizado, era a falta de visão comum entre seus 29 acionistas. 'Uma parte queria investir na empresa e outra, não. Dá para perceber isso no baixo grau de endividamento da empresa', diz Teixeira. Segundo o balanço de 2006, suas dívidas não passavam de R$ 5 mil.

Desde a profissionalização, houve uma melhora significativa nos números da companhia. Em 2003, a Leão chegou a perder a liderança do mercado de chás prontos para a Lipton, da Pepsi. Mas a marca voltou ao topo no mesmo ano. Na ocasião, ela tinha 42% das vendas, segundo AC Nielsen. Hoje tem três pontos percentuais a mais, apesar da concorrência forte.