Título: Prisão de Guantánamo não deverá ser fechada este ano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2007, Internacional, p. A18
A prisão militar na base americana de Guantánamo, na ilha de Cuba, ficará aberta provavelmente até o fim do mandato do presidente George W. Bush, em janeiro, porque levará tempo para conduzir os processos contra detidos no local, afirmou ontem o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow. Os EUA têm indicado que pretendem julgar pelo menos 60 dos 385 prisioneiros de Guantánamo. Bush já declarou que gostaria de ver a prisão fechada, mas Snow disse ser ¿altamente improvável¿ que os processos sejam concluídos antes que o presidente deixe o cargo.
A manutenção da prisão de Guantánamo é uma das poucas derrotas significativas do secretário de Defesa, Robert Gates, em suas tentativas de mudar o rumo de políticas promovidas por seu antecessor, Donald Rumsfeld. Segundo altos funcionários americanos citados ontem pelo jornal The New York Times, já em suas primeiras semanas como secretário de Defesa Gates argumentou repetidamente que a prisão se tornara tão mal afamada no exterior que procedimentos legais no local seriam vistos como ilegítimos. Gates disse então a Bush e outros dirigentes que a prisão deveria ser fechada o quanto antes.
O apelo de Gates foi um esforço para transformar num plano de ação específico o desejo declarado de Bush de fechar Guantánamo, disseram os funcionários. Em particular, segundo as fontes, o secretário insistiu que os julgamentos de suspeitos de terrorismo deveriam ser transferidos para os Estados Unidos para que os processos tivessem mais credibilidade e também porque a existência de Guantánamo prejudica o esforço de guerra mais amplo.
Os argumentos de Gates foram rejeitados depois que o secretário de Justiça, Alberto Gonzales, e alguns outros advogados do governo se opuseram firmemente à transferência de detentos para os EUA - posição apoiada pelo gabinete do vice-presidente Dick Cheney, segundo funcionários.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, uniu-se ao pedido de Gates, de acordo com as fontes. Mas as discussões de alto nível sobre o possível fechamento foram suspensas depois de Bush ter rejeitado a abordagem.
Entre os prisioneiros de Guantánamo estão 14 líderes importantes da Al-Qaeda (como Khalid Sheikh Mohammed, que confessou ter organizado os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA), transferidos para o local no ano passado - depois de permanecerem em prisões secretas administradas pela CIA. Sob os atuais planos do Pentágono, alguns prisioneiros serão acusados de crimes de guerra em julgamentos militares que devem começar este ano.
Segundo altos funcionários, Gates e Condoleezza manifestaram suas preocupações sobre Guantánamo em conversas com Bush e outros dirigentes, entre eles Gonzales, a partir de janeiro.
Uma alternativa bastante discutida foi a transferência dos prisioneiros para centros de detenção das Forças Armadas nos EUA, onde eles permaneceriam sob custódia do Pentágono e estariam sujeitos a julgamento segundo procedimentos militares.