Título: Democratas voltam a desafiar Bush e aprovam na Câmara saída do Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2007, Internacional, p. A18
A Câmara dos Representantes aprovou ontem a retirada das tropas americanas do Iraque até setembro de 2008 e o envio de US$ 124 bilhões para a campanha militar. A resolução, que teve aprovação apertada (218 votos a favor e 212, contra), foi mais um golpe sofrido pelo presidente George W. Bush, que nas últimas semanas tem sido posto contra a parede pelo Congresso.
A medida será votada pelo Senado na semana que vem. Se for aprovada, Bush prometeu vetá-la. Até agora, ele foi o presidente americano que menos usou o veto desde James Garfield, que ficou apenas quatro meses no cargo, em 1881. Beneficiado pela maioria republicana no Congresso que perdurou até o início deste ano, o único veto usado por ele foi sobre a lei de financiamento público para pesquisas de células-tronco, em julho do ano passado.
Depois de um primeiro mandato tranqüilo, Bush e o Congresso - agora dominado pela oposição democrata - entraram em confronto aberto. Em 2006, ele ameaçou usar o veto por seis vezes. Só este ano já foram nove ameaças.
O maior problema de Bush, portanto, não seria usar a ferramenta do veto, mas sim utilizá-la no momento em que seu governo está mergulhado em escândalos. Primeiro, Lewis Libby, ex-assessor do vice-presidente Dick Cheney, foi condenado por perjúrio e obstrução da Justiça - na investigação de um caso de vingança política que resultou na revelação da identidade de uma agente secreta da CIA.
Em seguida, Bush foi surpreendido com a notícia de que o FBI quebrou ilegalmente o sigilo bancário e telefônico de milhares de americanos, fez de tudo para segurar o emprego de seu secretário de Justiça e amigo pessoal, Alberto Gonzales, acusado de demitir oito procuradores federais por razões políticas, e sofreu sucessivas derrotas no Congresso, que aprovou intimações para que seus principais assessores fossem ouvidos em audiências públicas.
Muito irritado, assim que soube do resultado da votação de ontem, o presidente acusou os democratas de armarem um circo. ¿Eles acham que quanto mais atrasarem o envio de recursos para nossas tropas, mais me forçam a aceitar a retirada. Mas isso não vai acontecer¿, disse.