Título: Uruguai recebe montadora chinesa
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2007, Economia, p. B19

Após meses de negociações, o empresário Franco Macri, símbolo do capitalismo argentino dos anos 90, assinou um acordo com a montadora chinesa Chery para produzir automóveis no Uruguai. O plano é começar a fabricar e vender os veículos - que seriam majoritariamente destinados para exportação ao Brasil e Argentina - ainda neste ano. O acordo foi assinado em Pequim com a presença do vice-primeiro-ministro chinês, Wu Yi e o Ministro do Comércio, Bao Xilai.

Do outro lado do Rio da Prata, no governo e no empresariado argentino, começa a surgir o temor que o desembarque da Chery no Uruguai seja apenas a ponta de lança de uma ¿invasão¿ chinesa maior. A presença chinesa também é um sinal que o Uruguai torna-se cada vez mais um território atraente para investimentos de fora do Mercosul, enquanto mantém tensões comerciais com seus sócios do bloco do Cone Sul. Neste contexto, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Furlan, visitará Montevidéu nesta segunda-feira, acompanhando de uma comitiva de empresários brasileiros interessados em negócios e investimentos no Uruguai.

A Chery terá 51% de participação nessa empresa mista, enquanto Macri ficará com 49%. Informações extra-oficiais indicam que o investimento seria de US$ 100 milhões. A empresa produzirá no Uruguai uma camionete urbana, a Tiggo. O preço da unidade no mercado seria de US$ 25 mil. A idéia é que na primeira etapa a produção seja de 10 mil unidades por ano.

Em Montevidéu, o fechamento do acordo, esperado desde meados do ano passado, foi recebido com entusiasmo. O Uruguai, embora seja um país pequeno para constituir um mercado consumidor, é politicamente estável e amigável com os investidores estrangeiros. Desta forma, o Uruguai transformou-se nos últimos dois anos em um território atraente para investimentos provenientes de fora do Mercosul.

Simultaneamente, esse período também foi o de maiores decepções do Uruguai com o bloco do Cone Sul, já que além de problemas para a entrada de produtos uruguaios no Brasil e na Argentina, o país enfrenta pressões argentinas para desistir dos investimentos na área de celulose que estão sendo implantados sobre o rio Uruguai, que divide os dois países.

Para agravar o cenário, o Brasil preferiu manter-se neutro no conflito uruguaio-argentino - a denominada ¿Guerra da Celulose¿ - fato que causa profunda mágoa em Montevidéu.

Os chineses são apenas alguns dos mais recentes investidores extra-Mercosul que procuram o território uruguaio. No ano passado, investidores americanos decidiram adquirir campos e frigoríficos no Uruguai para potencializar as exportações de carne. Além disso, o país está sendo procurado pelas grandes empresas de celulose da Europa, interessadas no plano que o Uruguai desenvolve desde 1989 de transformar o país em uma potência exportadora do produto. Os analistas indicam que o Uruguai, ao contrário de alguns países da região, mostra um contexto político estável, com leis de proteção aos investimentos estrangeiros, além de um elevado nível educacional dos trabalhadores.

Poucas horas depois de realizado o anúncio do investimento chinês, desembarcará em Montevidéu o Ministro Furlan, em sua última missão no cargo. Furlan terá intensa agenda na segunda-feira na capital uruguaia, onde estará acompanhado por uma comitiva de empresários brasileiros. É a segunda visita de peso em menos de um mês, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na cidade uruguaia de Colonia no dia 26 de fevereiro para apaziguar as irritações uruguaias com a neutralidade de Brasília em relação à Guerra da Celulose.

Poucos dias depois de Lula, o presidente Tabaré Vázquez recebeu a visita do presidente americano George W. Bush. Vázquez iniciou há um ano e meio um flerte com os EUA que levou os dois países a assinar um acordo comercial que - em poucos anos - poderia servir de base para um Tratado de Livre Comércio direto, passando por cima do Mercosul.