Título: Aliados ainda disputam cargos que movimentam mais de R$ 6 bi
Autor: Filgueiras, Sônia e Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2007, Nacional, p. A4

Com a reforma ministerial praticamente concluída, os partidos da base aliada digladiam-se, agora, pelos cargos do segundo escalão federal. A briga envolve cifras impressionantes. Juntos, PT, PMDB, PP, PR e PSB disputam um orçamento de pelo menos R$ 6,2 bilhões, considerando-se apenas presidências e diretorias de estatais - como Eletrobrás, Eletronorte, Furnas e Banco do Nordeste - e de órgãos estratégicos do governo, como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e o setor de portos do Ministério dos Transportes.

Isso sem falar em nacos de poder de grandes empresas, como Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Correios - donas de orçamentos colossais para empréstimos e investimentos.

A briga por cargos azedou a relação entre os presidentes das duas Casas do Congresso, já estremecida desde a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para chefiar a Câmara. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apoiava o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Chinaglia não perdoou - está ajudando o PMDB da Câmara na busca de mais cargos e até se recusou a atender aos telefonemas de Renan.

Chinaglia também está decidido a tirar da presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobrás, o ex-senador Sérgio Machado (CE), outro apadrinhado de Renan.

APETITE

O apetite do PMDB continua forte. O partido acaba de ganhar o Ministério da Agricultura e já sonha com o comando da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas há resistência: embora tenha deixado a Agricultura no ano passado, o ex-ministro Roberto Rodrigues ainda tem ex-auxiliares em postos-chave.

Outro foco de disputa está no Ministério dos Transportes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a adiar a posse do senador Alfredo Nascimento (PR-AM), depois que o PR se declarou contrariado com a decisão de tirar da pasta a gestão dos portos e entregá-la, na forma de uma secretaria especial, ao PSB. Em jogo estão R$ 326 milhões em investimentos privilegiados, incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O PT deve perder um posto estratégico no segundo escalão: a direção geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), hoje comandado por um técnico ligado ao partido. O novo ministro da Integração Nacional, o peemedebista Geddel Vieira Lima (PMDB), quer substituí-lo por um nome indicado pelo líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro das Comunicações, também tenta emplacar uma indicação. O Dnocs tem R$ 135 milhões para investimentos.

O mesmo deverá acontecer com a direção da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), alojada na Integração Nacional e comandada pelo PSB. A companhia tem R$ 426 milhões para obras.

As trocas planejadas pelo PMDB na Integração preocupam o PSB, que tem três governadores nordestinos. O partido também trabalha para ficar com a presidência do Banco do Nordeste (BNB), atraente por sua carteira de empréstimos, além dos R$ 105 milhões para investir.

PMDB, PSB e PT estão juntos, ainda, na empreitada de recriação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Serão mais cargos e investimentos.

O PT, que aceitou ficar com o Ministério do Turismo emagrecido, amargou outra perda: a Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades, que passou a ser comandada pelo PP. O ministério conta com R$ 3,2 bilhões para investimentos em habitação e saneamento e concentra parcela importante dos projetos do PAC. Mas o PP quer também a presidência da TBG, a Transportadora Brasileira Gasoduto Brasil-Bolívia, e seus R$ 186 milhões em investimentos.