Título: Críticas à burocracia e aos `eurocratas¿
Autor: Pennafort, Roberta
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2007, Internacional, p. A20

Ao longo de 50 anos, o bloco que reúne hoje 27 países, quase 500 milhões de pessoas e centenas de novas leis todos os anos também criou uma burocracia que se tornou alvo de duras críticas entre os mais céticos em relação ao surgimento de um governo supranacional. A máquina estatal européia conta com 25 mil funcionários, ocupando todo um bairro em Bruxelas, além de 120 escritórios pelo mundo.

Em uma recente pesquisa feita pela entidade Harris Interactive e pelo jornal Financial Times, a burocracia foi o segundo atributo mais associado pelos cidadãos dos países europeus à criação da União Européia. Apenas o mercado único superou a citação da burocracia. O bloco se defende: 'Somos uma administração que está se modernizando', afirmou ao Estado Dale Kidd, porta-voz da Comissão Européia para assuntos administrativos. Uma das metas é a de reduzir em 25% até 2012 o número de papéis que uma empresa precisa preencher para operar na Europa.

O setor privado se queixa de que, além das exigências de seus governos nacionais, precisa estudar as leis do bloco e contratar despachantes que conheçam o sistema regional. 'Vamos reduzir esse sobrepeso', disse Kidd.

A falta de transparência é outro problema enfrentado pela UE. De acordo com Kidd, os cidadãos não sabem exatamente o que fazem todos os funcionários, ministros, especialistas e deputados instalados em Bruxelas.

Hoje, a Comissão Européia tem 27 comissários (ministros), 3 vice-presidentes e 1 presidente. O Parlamento Europeu tem 785 deputados, que participam dos debates em Bruxelas e Estrasburgo (França). Há ainda os funcionários do Banco Central Europeu em Frankfurt, da Corte de Justiça e outros órgãos oficiais espalhados pelos 27 países do bloco. Por tudo isso, a UE precisa destinar todos os anos 40 bilhões de seu orçamento para pagar sua administração.

Em Bruxelas, conhecida como capital da Europa, os 71 edifícios que formam a Comissão Européia ocupam todo um bairro da cidade. Os 'eurocratas', como são chamados os funcionários do bloco, contam com regalias que poucos funcionários públicos poderiam imaginar: não pagam impostos, escolas nem planos de saúde, e podem financiar a compra de apartamentos em 20 anos com juros irrisórios. Não por acaso, nos 30 primeiros dias da recente entrada da Romênia e da Bulgária na UE, 14 mil búlgaros e romenos pediram para se tornar eurocratas.

Outra dificuldade administrativa do bloco é respeitar a língua de todos os seus membros. Todos os países insistem que os documentos sejam traduzidos em suas línguas como forma de não perder sua identidade e reforçar seu orgulho nacional. O resultado é que hoje existem 23 línguas oficiais na UE e os documentos são publicados em todas elas. Com isso, 1,2 milhão de páginas são traduzidas por ano.

O professor do Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra, Richard Baldwin, minimiza a questão do número de burocratas na UE. 'Hoje, a administração de Viena ou Paris tem mais burocratas que a UE', disse ele ao Estado.