Título: Produção de etanol terá participação da Itália
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2007, Nacional, p. A6
O primeiro dia da visita do primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, ao Brasil serviu de prova de que o empenho do governo brasileiro em dar visibilidade internacional ao setor de biocombustíveis está surtindo efeito. Depois do presidente norte-americano George W. Bush, foi a vez de Prodi aderir à estratégia e anunciar uma série de acordos bilaterais nessa área.
Ontem, em visita a São Paulo, o primeiro-ministro anunciou a intenção do governo italiano de investir US$ 480 milhões na construção de quatro fábricas de biodiesel no Brasil em um período de quatro anos. Além disso, é praticamente certo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncie, ao receber o primeiro-ministro hoje em Brasília, a assinatura de um convênio entre a Petrobrás e a Ente Nazionale Idrocarburi (ENI), maior grupo energético da Itália, para produzir etanol na África. As duas empresas avaliam a criação de uma joint-venture para instalar uma refinaria, possivelmente em Angola - embora outros países ainda estejam sendo estudados.
Para completar, Prodi anunciou a criação de um fundo de financiamento com recursos iniciais de 100 milhões de euros, para estimular pequenas e médias companhias italianas a atuarem no Brasil.
No programa de rádio ¿Café com o Presidente¿, ontem de manhã, Lula já havia antecipado o que acertará com o visitante. ¿A Itália está disposta a fazer parceria com o Brasil na área da produção de remédios, de etanol, de biodiesel para ajudar os países africanos¿, disse Lula. E complementou: ¿O fato de a Itália querer estabelecer com o Brasil uma parceria estratégica é extraordinariamente importante.¿
No final da manhã, depois do encontro na Fiesp, Prodi foi visitar o governador José Serra, de quem recebeu uma camisa do Palmeiras. Estava combinado antes, avisou o governador: ¿Eu ia dar uma camisa do Palmeiras e ele ia me dar uma do Milan.¿ O trato não funcionou. Prodi deu a Serra um conjunto de caneta e itens de escritório. Não havia agenda definida mas os dois trocaram informações sobre áreas de interesse entre o governo paulista e grupos italianos.
Os acordos a respeito do etanol, segundo Prodi, refletem em parte a exigência imposta aos países da União Européia para que dediquem 20% de sua matriz energética a fontes renováveis. ¿Nós, na Itália, ainda estamos muito distantes dessa realidade¿, disse o visitante na entrevista. Ele aproveitou para brincar: ¿O papel do Brasil me parece óbvio. Parece até que foi de propósito. Às vezes me pergunto se essa regra não foi sugestão de vocês¿.
APOIO AO PAC
Otimista, Prodi comentou que esse é só um exemplo de que o Brasil, apesar das restrições na área agrícola, tem mais espaço para exportar para a Itália, que é grande consumidora de produtos tipicamente brasileiros.
Ele antecipou, também, que vai apoiar o Brasil em projetos de infra-estrutura, que constam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 'Acolhemos o projeto por ser uma agenda positiva. Isso é um sinal de mudança no País', afirmou, ressaltando que que dirá ao presidente Lula que há empresas italianas de infra-estrutura interessadas em investir no Brasil.
Prodi disse ainda que estabeleceu três prioridades em sua política externa: China, Índia e Brasil. Segundo ele, esses três países serão protagonistas da economia mundial no futuro. ¿Esta é uma orientação muito forte do meu governo. Porque o Brasil será, no futuro - aliás já começou a ser - um importante protagonista do comércio internacional¿.