Título: Ian Paisley: de crítico a premiê
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2007, Internacional, p. A12
A imagem de Ian Paisley, protestante radical e líder do Partido Democrático Unionista (DUP), sentado ao lado do católico Gerry Adams, do Sinn Fein, certamente parecia impossível há alguns anos. Paisley, que declarava que nunca dialogaria com os nacionalistas católicos, está agora prestes a tornar-se primeiro-ministro do governo de união entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte.
Paisley, de 80 anos, construiu sua carreira política combatendo os nacionalistas católicos. Agora, no entanto, parece ter percebido a chance de colocar seu nome na história. ¿Paisley quer ser lembrado como a pessoa que selou o acordo entre católicos e protestantes¿, afirmou por telefone ao Estado o professor Henry Patterson, da Universidade de Belfast.
Autor de vários livros sobre o conflito na Irlanda do Norte, Patterson explicou que a guinada de Paisley começou depois que o DUP bateu seu principal rival, o Partido Unionista do Ulster, nas eleições de 2003 e 2005. Além disso, nas eleições do dia 7, o DUP obteve uma votação ainda maior do que em outros anos. ¿Sem nenhum partido para atacá-lo da direita e com um mandato popular, Paisley percebeu que está seguro em sua posição política para fazer um acordo¿, disse Patterson.
Paisley passou praticamente toda a vida política rejeitando um acordo para um governo compartilhado. Em 1998, ele abandonou as negociações do Acordo da Sexta-Feira Santa depois que o Sinn Fein foi convidado a participar.
Nos anos 70, ele já havia liderado várias greves e manifestações contra tentativas de acordo de paz lideradas pela Inglaterra e a República da Irlanda. Em 1974, seus partidários organizaram a greve geral que derrubou o Acordo de Sunningdale, assinado em 1973 - uma das primeiras tentativas para estabelecer um governo compartilhado em Belfast. Em 2006, no entanto, durante as negociações de um novo pacto para um governo de união (o Acordo de Saint Andrews, na Escócia), Paisley deu os primeiros sinais de que poderia chegar a um entendimento.
A grande questão agora é se, depois de tantos anos de violência e desconfiança, Paisley e políticos católicos conseguirão trabalhar em conjunto. Para Patterson, apesar de ainda haver muita desconfiança, o DUP e o Sinn Fein devem conseguir governar juntos. ¿Os dois, por incrível que pareça, têm em comum suas posições sobre política econômica e social.¿