Título: Com dossiê, avança processo de beatificação de João Paulo II
Autor: Westin, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2007, Vida&, p. A16

A papelada do processo de beatificação de João Paulo II já está pronta para ser enviada à Congregação para a Causa dos Santos, o departamento do Vaticano que decidirá se o papa polonês tem os requisitos necessários para ser transformado em beato.

O monsenhor Slawomir Oder, responsável pelo dossiê de João Paulo II, anunciou ontem que o milagre que fará parte do processo é o de uma freira francesa que teria se curado do mal de Parkinson - justamente a doença que afetava o papa.

O dossiê será apresentado à Congregação para a Causa dos Santos na segunda-feira, data em que se celebram os dois anos da morte de João Paulo II, numa missa na Basílica de São João de Latrão, em Roma. Centenas de freiras francesas estarão lá, inclusive a que recebeu o milagre. O monsenhor Oder disse que caberá a ela decidir se aparece ou não.

A beatificação é o primeiro passo para a canonização. Reconhecido pelo Vaticano um milagre realizado pelo papa após sua morte, ele se torna beato. Logo em seguida, havendo mais um milagre, ele se transforma em santo.

O papa Bento XVI decidiu acelerar a beatificação de seu antecessor. Normalmente, esperam-se cinco anos para que o processo tenha início. Durante o funeral de João Paulo II, as pessoas carregavam cartazes em que pediam ¿santo já¿.

Normalmente, os processos de beatificação e de canonização duram décadas e séculos. Casos excepcionalmente rápida ocorreram num passado próximo, como o da Madre Teresa de Calcutá, que morreu em 1997 e foi beatificada em 2003, e o do santo espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer, que morreu em 1975 e foi beatificado em 1991 e canonizado em 2002.

SANTO VIP

Os processos que ¿tomam atalho¿ não são unanimidade entre analistas de assuntos religiosos. O vaticanista e escritor italiano Ettore Masina critica a existência de dois grupos na Igreja Católica, o dos ¿santos VIP¿ e o dos ¿santos sem privilégio¿.

¿Naturalmente que há o clamor público. Ninguém pode negar que a Madre Teresa foi um desses casos ou que Escrivá de Balaguer foi um líder com carisma de centenas de milhares de pessoas que seguem o Opus Dei, fundado por ele e uma das forças mais importantes da Igreja¿, disse ao Estado, por telefone.

¿Mas, viajando pela América Latina¿, continuou o vaticanista, ¿pude constatar o quão difundida é a veneração pelo mártir monsenhor Romero, que também na Europa é considerado um modelo de santidade. Mas o dossiê desse arcebispo, que foi morto há 27 anos enquanto celebrava uma missa, jaz empoeirado em algum armário do Vaticano.¿

Masina diz que a Santa Sé deveria levar mais em conta os exemplos de santidade dados pelo postulante durante a vida, e não apenas os milagres feitos após a morte. ¿Os milagres pouco me interessam.¿

Segundo o dossiê de João Paulo II, a freira francesa que sofria de Parkinson estava muito mal numa noite em que escreveu num pedaço de papel o nome do papa. Quando acordou na manhã seguinte, estava curada. Uma das provas é a letra da freira, que durante a doença era praticamente ilegível e depois ficou perfeita.

Entre vários outros, esse milagre foi escolhido, segundo o monsenhor Oder, para demonstrar que o papa sentia na pele ¿a batalha pela dignidade da vida¿. Não há prazo para que a congregação dê resposta sobre o dossiê.