Título: Solução demora 7 anos, diz federação de controladores
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2007, Metrópole, p. C1

O presidente da Federação Internacional dos Controladores de Tráfego Aéreo (Ifatca), Marc Baumgartner, criticou a atitude do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação à crise nos aeroportos brasileiros e alertou que qualquer medida anunciada para solucionar os problemas a curto prazo ¿não resolverá os obstáculos que a aviação no Brasil enfrenta¿.

¿Não adianta o governo prometer que irá dar uma solução definitiva até a Páscoa, pedir uma data, prazo ou algo do gênero. Não resolve. O que a população precisa saber é qual a estratégia que será adotada para modernizar o sistema. Caso contrário, os problemas voltarão a ocorrer em alguns meses¿, afirmou Baumgartner. Segundo ele, ¿o que o País precisa é rever todo o seu sistema aéreo, a infra-estrutura dos aeroportos e suas políticas para o setor¿.

O suíço acompanha de perto a evolução da polêmica envolvendo o setor aéreo brasileiro desde o choque entre o Legacy e o avião da Gol, em 2006. ¿Uma solução definitiva só será encontrada quando houver uma estratégia que inclua uma gradual transformação do controle militar ao civil na aviação comercial brasileira. Esse processo irá levar entre sete e oito anos.¿

Os especialistas no exterior apontam que a decisão do Brasil de manter o controle aéreo em mãos militares impede que agências internacionais criadas nas últimas décadas tenham possibilidade de criar acordos de cooperação com o País. Uma delas é a Organização dos Serviços de Navegação da Aviação Civil (Canso), com sede na Holanda, que tem estabelecido acordos entre mais de 50 países para o desenvolvimento de uma coordenação nos sistemas de navegação dos vários continentes. O Brasil, por ter um sistema militar, não pode fazer parte do esquema de cooperação.

Para Baumgartner, a quebra do sistema de pouso no aeroporto de Cumbica não poderia ter gerado o caos que acabou ocorrendo e é apenas mais um elemento que demonstra a crise no País. ¿Na Europa, todos os aeroportos contam com outros instrumentos se o ILS pára de funcionar¿, disse. ¿Há muitos que nem sequer contam com esse sistema e, mesmo assim, conseguem operar. O aeroporto de Zurique apenas recentemente adotou o sistema¿, explicou o presidente da entidade.

Na maioria dos aeroportos europeus, se o ILS pára, funciona um sistema em que o avião não desce por instrumentos eletrônicos, mas dados são transmitidos ao avião para que o piloto possa realizar as manobras para o pouso. ¿A única diferença é que o espaço entre um pouso e outro é ampliado, o que cria certos congestionamentos. Mas isso não significa o fechamento de nenhum aeroporto, salve em casos muito excepcionais¿, completou.