Título: Lula exige fim de apagão. De novo
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2007, Metrópole, p. C1

Ao final de mais uma reunião de cinco horas no Planalto, ontem, o governo revelou-se impotente diante da crise do setor aéreo: os ministros não apresentaram nenhuma proposta concreta, marcaram uma nova reunião para depois de amanhã, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de dizer que ¿o povo já não tem mais paciência¿, exigiu ¿um diagnóstico e solução, não importando quanto isso vai custar e o que terá de ser feito¿. Além da cobrança, disse que Waldir Pires ¿continua¿ no Ministério da Defesa.

Quatro meses atrás, o presidente Lula havia decretado o fim da crise e acrescentado: ¿Estamos vivendo um rescaldo¿ - isso foi no dia 9 de dezembro. Duas semanas depois, no dia 22 daquele mês, no auge do apagão aéreo do Natal, o presidente fez a mesmíssima exigência de ontem: ¿Quero um diagnóstico diário do que está acontecendo em cada aeroporto¿. Na reunião de ontem, a variante da exigência foi esta: ¿Quero prazo, dia e hora para anunciar o fim da crise nos aeroportos¿.

Horas antes da cobrança do presidente da República, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, deixou claro, em entrevista à Rádio Gaúcha, que a estatal não tem previsão para o fim dos problemas na infra-estrutura aérea do País. ¿Avião decolado é avião seguro. Agora, a solução final, quando nós vamos realmente voltar àqueles tempos pré-acidente com o avião da Gol, isso aí passa por um trabalho bem mais extenso¿, disse.

O presidente Lula afirmou que o problema do tráfego aéreo ¿não é questão de pessoas, é estrutural¿ e ¿vem de longos anos¿. Insistiu, sem citar nomes, que ¿os outros não fizeram o que deveriam ter feito¿. Apesar de usar a palavra ¿outros¿, o presidente estaria se referindo a funcionários do seu governo, no primeiro mandato, o ex-comandante da Aeronáutica brigadeiro Luiz Carlos Bueno e o ex-presidente da Infraero e hoje deputado Carlos Wilson (PT-PE), que ficaram, respectivamente, quatro e três anos no cargo, no primeiro mandato.

Em entrevista, o presidente chegou a citar ¿a culpabilidade de pessoas que tomavam conta dos aeroportos brasileiros¿. Na reunião de ontem, a maior parte do tempo foi gasta na discussão sobre o problema no Aeroporto Internacional de Guarulhos, que funcionou, no fim de semana, de maneira precária sem o equipamento ILS, que permite o pouso sem visibilidade - em manhãs de neblina forte, por exemplo. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, teria assumido a responsabilidade pela demora na liberação do avião da FAB para testar o equipamento na pista.

Para a reunião de sexta-feira, o governo admite discutir a proposta de desmilitarizar a aviação civil. Lula questionou por que o Brasil não pode ter um setor independente para cuidar do tráfego aéreo, nos moldes do que ocorre nos Estados Unidos. Foi informado de que um sistema como esse custaria pelo menos R$ 70 bilhões - cada radar mais simples custa U$ 2 milhões; uma versão mais moderna custa US$ 8 milhões.

Estiveram presentes, na reunião do Planalto: os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Mares Guia (Relações Institucionais), Waldir Pires (Defesa), o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, o presidente da Infraero, José Carlos Pereira, e o presidente da Anac, Milton Zuanazzi.