Título: Greve da PF deixa quase 4 mil sem passaporte
Autor: Macedo, Fausto e Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2007, Nacional, p. A14

Nas 24 horas da greve de advertência realizada ontem pelos servidores da Polícia Federal, 38 mil inquéritos em todo o País deixaram de ser movimentados - e pelo menos 300 deixaram de ser instaurados -, cerca de 2 mil audiências foram suspensas e quase 4 mil passaportes deixaram de ser emitidos. O balanço é da Federação dos Delegados da Polícia Federal. A categoria articula nova greve para a próxima quarta-feira, desta vez mais radical, inclusive com operação-tartaruga nos aeroportos e postos de fronteira.

O governo federal considerou 'precipitada' a paralisação, que atingiu 24 Estados e o Distrito Federal. Segundo o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Marcos Vinício Wink, dos cerca de 12 mil policiais, entre 8 mil e 9 mil pararam em protesto ao que ele chamou de 'calote do governo'. Os policiais não receberam a segunda parcela do aumento de 60%, acordado em 2006.

Na rodada de negociações, ontem, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não deu nenhuma garantia de que vai conceder o reajuste de 30% e ameaçou a categoria com a lei de greve, caso haja radicalização. 'É preciso que haja um diálogo, uma negociação.' Mas ele ponderou que o movimento não é abusivo. 'É para pressionar o governo, o que é absolutamente normal', disse Bernardo, que voltou a defender a regulamentação do direito de greve dos servidores.

Para Wink, a reunião com Bernardo foi um fiasco. 'Me admira um homem que ajudou a consolidar o partido que está no poder fazendo greves vir agora nos reprimir por um movimento legítimo', disse. A próxima rodada está marcada para 10 de abril.

O novo ministro da Justiça, Tarso Genro, foi lacônico ao comentar a paralisação da corporação sob seu comando. 'O movimento foi respeitoso e espero que as negociações cheguem a bom termo.'

Com exceção de Santa Catarina e Alagoas, que não aderiram à greve, as Superintendências da PF nos Estados só mantiveram os serviços essenciais.

Em São Paulo, a temida operação-padrão nos aeroportos foi suspensa e todo o efetivo da PF trabalhou normalmente. O comando da greve na capital alegou que a 'gentileza' do ministro Tarso evitou a paralisação em Cumbica e Congonhas. 'Foi um gesto de homenagem ao ministro, que gentilmente foi nos procurar segunda-feira', disse o presidente do Sindicato dos Delegados Federais de São Paulo, José Amaury Portugal.

Mas quem tentou tirar passaporte na Superintendência da PF em São Paulo, na Lapa, teve muitos problemas. 'Vocês não têm vergonha não? Vocês só complicam a vida da gente, não é assim que vão atingir o governo', protestava Nina Konai. Às 8 horas, já havia cerca de 100 pessoas na fila. E só casos urgentes seriam atendidos.

No Rio, o vice-presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Antônio Elias Ordacgy Júnior, disse que a segurança dos Jogos Pan-Americanos, em julho, 'pode ficar comprometida caso o impasse continue'.

NÚMEROS

8 mil policiais aderiram à greve, segundo a Federação dos Policiais Federais

24 Estados e o Distrito Federal participaram do movimento

30% de aumento é a parcela restante que a categoria reivindica