Título: Teerã denuncia invasão de 500 metros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2007, Internacional, p. A16

Informações de aparelhos de localização por satélite (GPS) se transformaram no principal ponto de discórdia entre Londres e Teerã, no caso que envolve a captura dos 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos.

O Ministério de Defesa da Grã-Bretanha afirma que dados do GPS de sua embarcação provam que os marinheiros foram detidos a 1,7 milha náutica (cerca 3 quilômetros) dentro das águas territoriais iraquianas. Londres também divulgou fotos de satélite e mapas do local do incidente.

Segundo o vice-almirante Charles Style, o aparelho estava instalado em uma das lanchas usadas pelos militares e conectado à fragata HMS Cornwall. ¿Isso permitiu que fosse feita uma leitura contínua, que prova que nossos barcos permaneceram todo o tempo dentro das fronteiras marítimas do Iraque¿, afirmou Style. ¿Foi uma emboscada.¿

Logo após a Grã-Bretanha revelar as informações, o Irã divulgou uma nota com a sua versão para o caso. ¿Já enviamos ao governo britânico as coordenadas geográficas do local da detenção. Temos evidências suficientes, incluindo dados de GPS, que provam que houve uma invasão de 500 metros em águas iranianas¿, diz o comunicado iraniano.

O vice-almirante britânico, entretanto, afirmou que os iranianos passaram às autoridades britânicas duas posições diferentes do local da captura dos militares, uma no sábado, outra na segunda-feira. ¿A primeira coordenada que eles enviaram ficava dentro das águas territoriais iraquianas. Alertamos para esse fato no domingo¿, afirmou Style. ¿Eles forneceram então novas posições, que localizavam o incidente em águas iranianas, a cerca 2 milhas náuticas da posição marcada pelo HMS Cornwall.¿

Style disse desconhecer os motivos pelos quais o governo iraniano decidiu alterar as coordenadas, mas contestou ¿de forma inequívoca¿ as duas informações.

O governo americano negou ontem que suas manobras militares no Golfo Pérsico estivessem relacionadas ao Irã. ¿Os exercícios na região já estavam programados bem antes da captura dos britânicos¿, afirmou Dana Perino, porta-voz da Casa Branca.

TENSÃO

Tanto os EUA como o Irã minimizaram as manobras militares americanas na região. Em conversa com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, o presidente americano, George W. Bush, disse que não há ¿uma escalada de tensão contra o Irã por parte dos EUA¿.

Em nota divulgada na TV estatal iraniana, o governo afirmou que ¿não está preocupado com as manobras que o Pentágono está realizando no Golfo Pérsico¿ . A porta-voz da Casa Branca afirmou ainda que Bush ¿apóia incondicionalmente o premiê Blair e nossos aliados britânicos¿.

AJUDA

O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, disse que ajudará a encontrar uma solução pacífica para o impasse entre Irã e Grã-Bretanha. Por ser muçulmano xiita como a maioria da população iraniana, Maliki tem laços estreitos com Teerã.

Depois de se reunir com o chanceler iraniano, Manuchehr Mottaki, o premiê da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que autoridades de seu país podem atuar como mediadores e visitar os britânicos detidos no Irã.