Título: 'Ocupação do Iraque é ilegítima', diz rei saudita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2007, Internacional, p. A16

O rei Abdala, da Arábia Saudita, abriu ontem a cúpula da Liga Árabe, em Riad, capital do país, com um surpreendente discurso pan-arabista, no qual classificou a ocupação estrangeira no Iraque de ¿ilegítima¿. ¿No Iraque, estão derramando sangue de irmãos à sombra de uma ocupação estrangeira ilegítima¿, disse o rei, um tradicional aliado dos Estados Unidos.

O discurso do monarca saudita acabou ofuscando o principal tema do encontro, que reuniu 16 representantes dos 22 países do bloco: o relançamento do plano de paz para o Oriente Médio proposto em 2002 pela Arábia Saudita.

Analistas acreditam que, ao não especificar quais seriam essas ¿forças estrangeiras¿, o rei acertou dois alvos de uma vez: Estados Unidos e Irã. Não é de hoje que dirigentes sauditas criticam a política americana na região, embora seja a primeira vez que o fazem tão explicitamente.

Washington respondeu imediatamente. ¿Os Estados Unidos estão no Iraque a pedido dos iraquianos e sob mandato das Nações Unidas. Qualquer insinuação contrária é equivocada¿, afirmou Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca.

Já as divergências entre sauditas e iranianos são históricas. País árabe e de maioria sunita, a Arábia Saudita tenta ocupar o vácuo de poder deixado pela queda do ditador Saddam Hussein, também sunita. O novo governo iraquiano é apoiado pelos rivais xiitas do Irã, país de maioria persa. ¿Não haverá outra bandeira içada em terra árabe que não seja a do arabismo', assegurou o rei.

Diplomatas sauditas queixam-se que, até agora, a intervenção americana no Iraque só serviu para aumentar a influência do Irã na região. Em mais de uma ocasião, o governo saudita responsabilizou o novo regime xiita em Bagdá pela violência e discriminação contra os sunitas no Iraque.

Com um PIB de US$ 310 bilhões, a Arábia Saudita é a maior economia do mundo árabe. O país possui ainda os principais santuários religiosos do islamismo.

O súbito crescimento da liderança saudita no Oriente Médio visa, além de tomar espaço do Irã e substituir os EUA como mediador nas negociações regionais, a sobrepor ao Egito, outro histórico aliado dos americanos.