Título: Novo PIB pode mudar os diagnósticos da economia
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2007, Economia, p. B4

Os novos número do PIB brasileiro podem mudar não só as séries históricas e as projeções de crescimento, mas também os diagnósticos mais profundos sobre a economia nacional. A revisão pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) das contas nacionais mostra que o crescimento potencial da economia brasileira pode ser razoavelmente maior do que se supunha.

Isto reduz a força da visão comum entre os economistas ortodoxos de que o Brasil está preso numa armadilha de crescimento baixo, por causa da falta de reformas estruturais como a da Previdência.

'Os problemas estruturais continuam aí, mas aparentemente a realidade está melhor do que achávamos, e há espaço para um crescimento sustentado um pouco maior', diz Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um dos mais ardorosos defensores de mudanças estruturais.

Aloísio Araújo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), acha que os novos números do IBGE reforçam sua crítica - manifestada em entrevista ao Estado em fevereiro - ao 'determinismo do baixo crescimento'. Para ele, as reformas dos últimos anos (como a Lei de Falências) podem levar a economia a um ritmo de crescimento superior ao estimado pela maior parte dos economistas. Sem bancar uma projeção específica, Aloísio não descartou nem mesmo o ritmo de 5% defendido pelo presidente Lula.

No outro lado deste debate, o economista Samuel Pessôa, também da FGV-Rio (ver entrevista nesta página), um contundente defensor da idéia de que a falta de reformas estruturais é a grande 'trava' do crescimento econômico, reconhece que os novos números do PIB podem mudar o seu diagnóstico.

Para Pessôa, se o novo ritmo sustentável de crescimento do PIB for 3,5%, isto apenas adia 'de amanhã para depois de amanhã' reformas que ele vinha defendendo como urgentes, como a da Previdência. Caso, porém, o ritmo sustentável seja superior a 4%, e o governo consiga controlar o aumento real do salário mínimo, é possível, na sua opinião, que se abra um intervalo de dez anos sem necessidade imperiosa de reformas (que tanto ele quanto Araújo continuam a defender em qualquer hipótese). Isto ocorre porque a combinação de crescimento maior e juros em queda pode acelerar a redução da relação entre a dívida pública e o PIB, o que ' transformaria o Brasil numa economia normal', segundo Pessôa. Diante das resistências políticas, ele acha difícil que haja reformas se o País entrar num ritmo sustentável de 4%.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro na América Latina, e ex-diretor do Banco Central (BC), é outro especialista que já vinha detectando, antes da divulgação dos novos número do IBGE, que o crescimento potencial brasileiro era maior do que o que se julgava. A partir de trabalhos relacionando a produção industrial e a ocupação da capacidade na indústria, ele já havia esticado a sua estimativa de crescimento potencial do intervalo de 2,5% a 3% para o de 3,5% para 4%. 'Agora pode fica mais perto de 4%', ele diz.

Schwartsman, porém, acha que essa melhora não muda em nada o diagnóstico de que o Brasil é um País de baixo crescimento por causa da falta de reformas estruturais. 'Países de renda equivalente à nossa estão crescendo mais rápido', resume o economista.