Título: Gol compra a Varig em negócio que deve chegar a US$ 320 milhões
Autor: Barbosa, Mariana e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2007, Negócios, p. B22

A Gol anunciou ontem a compra da nova Varig por US$ 320 milhões. A empresa desembolsou US$ 275 milhões, com a entrega de 3% de suas ações e 10% de recursos de seu próprio caixa. O restante, R$ 100 milhões, corresponde a uma obrigação de honrar uma dívida feita por meio de debêntures pela nova Varig. Ontem, as ações da Gol subiram 6,24% na Bovespa.

O empresário 'Nenê' Constantino Oliveira disse, em entrevista, que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe pediu há seis meses para 'salvar' a Varig. Minutos antes, Oliveira esteve com Lula no gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto para comunicá-lo da compra da Varig.

A Gol informou ao governo que vai manter o programa de milhagem da Varig e garantiu que vai administrar as duas empresas separadamente, o que facilitaria a aprovação da compra pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Ao lado de Constantino Oliveira, estava o advogado Roberto Teixeira. 'Só cuidei da parte jurídica', disse Teixeira ao ser questionado sobre a participação na compra da Varig pela Gol. Teixeira já foi advogado da Transbrasil.

O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, sinalizou que a negociação envolvendo as duas companhias aéreas poderá ser aprovada pela agência em até dois meses. Ele disse que, durante a audiência, Lula pediu rapidez na análise da compra da Varig. 'O presidente pediu que a Anac analisasse o mais breve possível a negociação para podermos oficializar a transferência de ativos', afirmou.

'A Gol vai manter as empresas em concorrência, com linhas gerenciais próprias', observou. 'Nesse sentido, as primeiras palavras da Gol são bem vindas.' Filho de Constantino Oliveira e atual presidente da Gol, o empresário Constantino Júnior disse que o valor de compra da Varig foi superior ao preço pelo qual a companhia foi comprada em julho de 2006 pela VarigLog por causa de uma série de investimentos que teriam sido feitos. Única participante do leilão, a VarigLog pagou US$ 24 milhões pela companhia.

'A Varig operava com dois aviões na época e hoje opera com 16 aviões', disse Constantino Júnior. O leilão ocorreu três meses antes da suposta conversa de Constantino Oliveira com o presidente Lula.

A aquisição foi feita por meio de uma subsidiária da Gol, a GTI S/A. A Gol afirmou que manterá a marca Varig tanto no mercado doméstico quanto no internacional. A intenção é manter posicionamentos distintos para cada marca.

A Varig terá um foco mais de negócios, com serviços diferenciados e o programa de milhagem Smiles, que conta com uma base de 5 milhões de clientes. No mercado doméstico, a Varig concentrará suas operações nos aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro, com vôos diretos para as principais capitais. Dentre os destinos internacionais, a Varig fará vôos de longo curso para Europa (Frankfurt, Londres, Madrid, Milão e Paris)e América do Norte (Miami, Nova York e Cidade do México).

Na América Latina, região onde a Gol atua agressivamente, a Varig se concentrará nos maiores mercados (Buenos Aires, Santiago, Bogotá e Caracas), com vôos diretos e classes econômica e executiva. No novo modelo de negócios internacionais da Varig, a primeira classe será suprimida. A Gol manterá seus vôos para a Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, apenas com classe econômica.

No comunicado divulgado ontem, a Gol não fala em prazos, mas diz que pretende ampliar a frota da Varig de 17 para 34 aviões. No mercado doméstico, as duas companhias vão operar apenas com Boeings 737. A Varig já possui 15 jatos desse modelo e receberá outros 5. Para retomar as rotas internacionais, a Varig ganhará 14 Boeings 767.

Juntas, Gol e Varig terão 44,83% do mercado doméstico, 2,5 pontos porcentuais a menos que a TAM, considerando dados de fevereiro. Somando os mercados doméstico e internacional, as duas empresas transportaram 20 milhões de passageiros no ano passado, ante 25 milhões da líder TAM.

Com apenas seis anos de vida, a Gol registrou no ano passado um faturamento de R$ 3,8 bilhões e lucro de R$ 684,5 milhões. Margem superior à da TAM, que faturou R$ 7,7 bilhões e obteve um lucro de R$ 556 milhões.

A Gol disputou a Varig com a LAN. A companhia chilena chegou a fazer um empréstimo de US$ 17,1 milhões para a Varig em janeiro, operação passível de ser convertida em ações. A TAM chegou a analisar a possibilidade de uma aquisição, mas desistiu por temer a possibilidade de sucessão de dívidas da Varig velha.

CRONOLOGIA DA VARIG

1995: Derrocada Último ano em que a Varig registra lucro

1999: Encolhimento Suspende vôos regulares ao exterior e devolve 12 aviões

2003: Tentativa Code share com a TAM, que durou até 2005

2005: Justiça Empresa entra em recuperação judicial, pela nova Lei de Falências

2006: Leilão É vendida em leilão para o Matlin Patterson, por US$ 24 milhões

2007: Ato final Passa ao controle da Gol, em um negócio de US$ 320 milhões