Título: Argentina promete retomar Malvinas
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2007, Internacional, p. A14

¿Recuperaremos aquilo que nos pertence!¿ Com esta promessa - alusão explícita às Ilhas Malvinas - o vice-presidente Daniel Scioli marcou as cerimônias oficiais do 25º aniversário da invasão argentina do arquipélago, que há 174 anos é controlado pela Grã-Bretanha. Em Ushuaia, na Província da Terra do Fogo, Scioli representou o presidente Néstor Kirchner nas cerimônias e sustentou que a Argentina recorrerá a meios pacíficos para recuperar as Malvinas, denominadas Falklands pelos britânicos.

Scioli destacou que atualmente as reivindicações argentinas são apresentadas num contexto de paz: ¿Nossas demandas são feitas com base no diálogo e a força da razão. Pedimos a Londres que retome as negociações. As Malvinas são argentinas, sempre foram e serão argentinas.¿ Além disso, sustentou que ¿jamais¿ a Argentina deixará de reivindicar seus ¿legítimos direitos¿. Segundo ele, o domínio britânico nas ilhas é ¿colonial¿.

Scioli fez um aceno aos habitantes das ilhas, que tradicionalmente rejeitam negociações com a Argentina: ¿Queremos conciliar a integridade territorial argentina com os interesses dos ilhéus para conseguir uma solução justa.¿

Kirchner não compareceu. Os analistas indicaram que o motivo da ausência foi a presença de centenas de professores das escolas públicas da Patagônia, que há semanas desafiam o governo para pedir aumento salarial. Kirchner teria preferido faltar à homenagem a correr o risco de ser vaiado pelos professores numa cerimônia cujas imagens percorreriam todo o mundo.

O chanceler Jorge Taiana argumentou que o princípio de autodeterminação dos ilhéus ¿não pode ser aplicado nas Malvinas, já que os kelpers são população britânica transplantada com a intenção de criar uma colônia¿.

Trezentos veteranos da guerra participaram da cerimônia em Ushuaia. No total, 649 soldados morreram no conflito. Outras manifestações foram realizadas em Buenos Aires e nas principais cidades do país.

`IMPROVISO¿

O general Martín Balza, herói da Guerra das Malvinas, declarou que a estratégia da junta militar que comandava a Argentina em 1982 foi ¿improvisada, com falta de previsões e incompetente¿. Segundo ele, os líderes militares agiram com ¿desprezo¿ aos soldados. Balza, um dos poucos militares argentinos com prestígio entre os civis, sustentou que a guerra de 1982 ¿foi absurda, inédita e não pensada¿. No entanto, destacou a coragem dos argentinos: ¿Nossos homens lutaram pelo sentimento que temos sobre as Malvinas, independentemente da idiotice da junta militar, que se aproveito do sentimento popular com o objetivo bastardo de prolongar a desprestigiada ditadura, que naufragava.¿

TORTURA

Ex-combatentes da Província de Corrientes denunciaram pela primeira vez torturas e assassinatos cometidos por oficiais nas Malvinas. O Ministério da Defesa recebeu o documento que relata ¿abusos, humilhações e todo tipo de torturas¿.

Entre os casos está o do assassinato de um soldado por parte de seu oficial superior; a morte de quatro soldados por fome (mas que nas listas do Exército estão registrados como baixas em combate) e 15 casos de ¿estacamentos¿ (os oficiais prendiam os soldados com estacas no chão gelado das ilhas).

O subsecretário de direitos humanos de Corrientes, Pablo Vassel, afirmou que ¿a ditadura tratou os soldados como tratava os argentinos no continente: com tortura, arbitrariedade, assassinato e desprezo pela vida¿.

SUICÍDIOS

Um estudo da Previdência argentina, indicou que entre os ex-combatentes que procuram os serviços do organismo na cidade de Lanús, na Grande Buenos Aires, 39,1% já pensaram em se suicidar ao longo dos últimos 25 anos. O estudo também indica que 40% dos ex-combatentes do grupo têm problemas de alcoolismo e 69,5% pensam constantemente - ¿com intensidade¿ - nos dias que esteve na guerra.