Título: Carros têm o melhor 1º trimestre da história
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2007, Economia, p. B3

O primeiro trimestre foi o melhor da história da indústria automobilística. O setor acumula vendas de 493 mil veículos, quase 18% acima dos números obtidos em igual período de 2006. O mercado de carros tem puxado a atividade industrial do País, favorecido principalmente pelos juros baixos e prazos longos no financiamento e estabilidade econômica.

Só em março foram vendidos 193,4 mil veículos, 31,8% a mais que em fevereiro e 23,2% acima do volume de igual mês do ano passado. Foi o melhor março da história, situação que se repete desde novembro, com as vendas superando resultados de iguais meses anteriores.

'Tirando o caos aéreo, o que mais nos perturba?', pergunta o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze, ao ser questionado sobre o desempenho das vendas de veículos.

Para Reze, o mercado continuará aquecido e as montadoras e revendedores terão de rever para cima suas projeções para o ano. Até agora, as apostas são de crescimento de 8%, com resultados próximos a 2,1 milhões de veículos. Ele acredita que o aumento pode chegar a 11%. O recorde atual é de dez anos atrás, com 1, 94 milhão de unidades vendidas.

Somente o segmento de automóveis e comerciais leves cresceu 18,5% no trimestre, para 469,4 mil unidades, segundo registros de emplacamentos. Em março, foi 31,6% acima de fevereiro - com quatro dias úteis a menos - com 184 mil unidades.

Nesse segmento, a Fiat lidera as vendas no trimestre, com 25,4% de participação. A Volkswagen tem 23,6% do mercado e a General Motors, 21,2%. A Ford ficou com 11% e as demais marcas dividem o restante.

Dados da Fenabrave mostram que as vendas de caminhões no trimestre (19,8 mil unidades) superam em 12% as de igual período de 2006. Já as de ônibus (3,7 mil) caíram 14,8%.

CRÉDITO

O financiamento tem sido o combustível para a venda de carros, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb.

De olho nesse nicho, a briga entre os bancos para atrair o cliente que parcela a compra é feroz, constata Eugenio Faganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, consultoria especializada em bens de consumo e varejo. 'Feirões estão vendendo dinheiro que, por acaso, são para a compra de um veículo.'

Além dos feirões que as montadoras fazem nas fábricas nos fins de semana, bancos e financeiras organizam feirões próprios e convidam os lojistas, normalmente multimarcas que vendem modelos novos e seminovos. Também há promoções de juros, parcelamentos escalonados e até sorteio de prêmios.

A BV Financeira, do Grupo Votorantim, mantém até quinta-feira promoção em que o cliente pode dar R$ 1 de entrada e parcelar o valor da compra em 72 prestações. Na loja multimarcas Rommer, na Barra Funda, o vendedor Antonio do Vale Santos fechou seis negócios nessas condições. 'O cliente realmente paga R$ 1, pois temos de fazer o recibo.'

Na venda de um Corsa sedã 2002, no valor de R$ 19.300, o cliente deu R$ 1 de entrada e pagará 72 parcelas fixas de R$ 497,55. Ao final, o carro terá saído por R$ 35,8 mil, quase duas vezes o valor inicial. O que conta, porém, é o valor que cabe no bolso, diz o vendedor.

Atualmente, de cada 100 carros novos vendidos, mais de 70 são por meio de financiamento. No segmento de usados, o porcentual é parecido, diz Reze. Segundo ele, para cada carro zero são vendidos cinco usados.

Os riscos nos empréstimos para a compra de um carro são muito menores, por exemplo, do que na compra de celulares e eletrodomésticos. O carro pode ser retomado e revendido em leilão, ressalta Faganholo.

Como são bens de valor elevado, o financiamento de veículos enxuga dinheiro de outras categorias de produtos. Uma delas é a de móveis de alto padrão, diz o consultor. Bancos que antes não operavam no financiamento de carros, como Banco do Brasil, também passaram a investir na modalidade.