Título: 'Governo não vai usar folga no caixa para gastar mais'
Autor: Fernandes, Adriana e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2007, Economia, p. B6

O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse ontem que os indicadores econômicos do primeiro trimestre deste ano apontam uma tendência de crescimento das receitas do governo maior do que a prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele assegurou, no entanto, que se essa tendência se confirmar ao longo do ano o governo não aproveitará a folga maior do caixa para autorizar novos gastos.

'Se a Receita for maior, ainda assim o governo vai fazer o investimento previsto. Isso vai se traduzir em superávit (receita menos despesa) maior. Esse é o compromisso assumido.' O secretário garante, também, que o governo vai manter a meta de investimento estabelecida em R$ 11,3 bilhões para os programas listados no Projeto Piloto de Investimento (PPI), incluído no PAC. Esses investimentos, que, com a revisão do Produto Interno Bruto (PIB), caíram de 0,5 ponto para 0,45 ponto porcentual, poderão ser totalmente descontados da meta de superávit primário.

O governo, afirmou, continua mirando a meta de superávit já descontando o valor do PPI, ou seja, alcançar uma economia de recursos para o pagamento da dívida interna equivalente a cerca de 3,38% do PIB.

Em termos nominais, a meta de superávit, sem excluir os investimentos do PPI, é de R$ 95,9 bilhões. Abatendo-se o valor dos investimentos do PPI, a economia cai para cerca de R$ 84,6 bilhões. Segundo o secretário, a arrecadação de receitas federais será favorecida este ano pelo esperado ritmo forte da atividade econômica. 'A aceleração do crescimento do PIB no último trimestre de 2006 já garante uma expansão de quase 2% para o País em 2007.' É o que os economistas chamam de efeito estatístico (carry over) de um ano para o outro.

Semana passada, segundo ele, o governo fez uma primeira avaliação da execução do PAC e constatou que será possível executar os programas e pagar este ano todo o volume de investimentos do PPI. Essa avaliação já foi apresentada ao presidente Lula no fim do mês passado e será divulgada num boletim à imprensa em duas semanas.

'Os R$ 11,3 bilhões, com certeza, serão realmente executados e pagos.' Esses investimentos estão concentrados no setor de transportes, cujos projetos estavam bem mapeados e a maioria em andamento, informou o secretário. 'O investimento pago já subiu cerca de 32% no bimestre e o das estatais cresceu quase 65%.'

CÂMBIO

O secretário classificou a valorização do real em relação ao dólar como um 'problema bom' para o País, que será atenuado com o maior crescimento da economia, aumento das reservas e redução das taxas de juros. Para ele, as chamadas operações de arbitragem (nas quais os investidores tentam conquistar ganhos maiores) no mercado cambial não trazem fragilidade para a economia brasileira, mas ele reconhece que elas têm adicionado volatilidade ao mercado.

Nelson Barbosa disse ainda que o crescimento da economia também terá impacto no câmbio, porque levará ao aumento do fluxo de importações, com saída maior de dólares. E o processo de queda da taxa de juros, em curso, reduzirá o ganho dos investidores em aplicações no País, reduzindo o fluxo de dólares para essas operações de arbitragem.