Título: Bombardier ganha subsídio do Canadá para enfrentar a Embraer
Autor: Chade, Jamil e Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2007, Negócios, p. B19

O governo canadense anunciou ontem que destinará US$ 779 milhões a seu setor aeronáutico e espacial, nos próximos cinco anos. A intenção do governo é capacitar as empresas canadenses a competir do ponto de vista tecnológico com as indústrias aeroespaciais americana e brasileira. Em especial, os recursos ajudarão a fabricante Bombardier a enfrentar a Embraer no mercado internacional de jatos de pequeno e médio porte.

Há cinco anos, o Brasil conseguiu que a Organização Mundial do Comércio (OMC) condenasse o Canadá por dar subsídios ilegais a Bombardier, mascarados sob a forma de um programa de desenvolvimento tecnológico chamado Technology Partnership Canada (TPC).

Agora, o governo está reeditando o TPC, mas com algumas modificações. 'Com a condenação, o Canadá teve de adequar o TPC às normas internacionais', disse o vice-presidente de relações externas da Embraer, Henrique Rzezinski. 'Esperamos e entendemos que o novo TPC esteja dentro das regras internacionais, mas estaremos sempre atentos ao seu desenvolvimento.'

Pelas regras internacionais, os recursos não podem ser usados para o desenvolvimento industrial. Não poderiam, portanto, ser usados para tirar do papel o projeto do Modelo C da Bombardier, linha de jatos de 100 lugares que competiria diretamente com a família 190/195 da Embraer. 'O jato de 100 lugares da Bombardier não é um programa para pesquisa e desenvolvimento, mas de desenvolvimento industrial, de produto', disse Rzezinski. 'Veríamos com preocupação um apoio para o desenvolvimento de produtos, mas entendemos e esperamos que os recursos não sejam aplicados nisso'. Segundo o executivo, não há, até o momento, nenhum indício nesse sentido.

Os recursos serão investidos no setor em cinco etapas até 2011. 'Nossa indústria precisa se manter competitiva', afirmou Maxime Bernie, ministro das Indústrias do Canadá, ao anunciar o programa. 'Estamos ajudando a indústria a continuar competitiva e criar postos de trabalho.'

No Canadá, o setor de aviação emprega 75 mil trabalhadores, com exportações de cerca de US$ 15 bilhões. Além da Bombardier, destaca-se a fabricante de motores Pratt and Whitney Canada, entre outros.

Há dois anos, o atual partido no poder havia anunciado durante a campanha eleitoral que não iria financiar a construção do modelo C da Bombardier. Agora, no governo, a estratégia é outra. A opção foi a de criar a Iniciativa Estratégica Aeroespacial e de Defesa.

O governo canadense se recusa a qualificar o projeto de subsídios e aponta que cada dólar investido terá de contar com uma contrapartida de 3 a 4 dólares das empresas. As autoridades garantem ainda que as informações sobre cada financiamento serão cuidadosamente avaliadas e serão tornadas públicas aos contribuintes.

Para a Associação de Indústrias Aeronáuticas do Canadá, a iniciativa 'fortalecerá os negócios e as inovações'. Para Don Campbell, presidente da entidade, 'a parceria com o governo estimula o desenvolvimento tecnológico que não poderia ocorrer de outra maneira'.

Na OMC, as disputas entre Brasil e Canadá durante cinco anos renderam não apenas atritos nas relações entre os dois países, mas também um sentimento de que o caso jamais foi totalmente solucionado. O Canadá conseguiu a condenação do programa de financiamento às exportações, o Proex, e dos empréstimos à Embraer, enquanto o Itamaraty conseguiu a condenação do TPC.