Título: Infraero já teme que crise entre FAB e controladores afete segurança de vôos
Autor: Brancatelli, Rodrigo e Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2007, Metrópole, p. C1

Mais que o processo de desmilitarização do setor, o governo está preocupado com o reflexo do racha entre controladores e oficiais da Aeronáutica para a segurança de vôo no País. Segundo o presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), brigadeiro José Carlos Pereira, o principal objetivo das autoridades agora é manter o bom funcionamento do sistema. 'Os controladores não podem trabalhar sob stress, pois o risco para a população pode ser grande', disse ele, após audiência pública sobre as obras na pista do Aeroporto de Congonhas.

Executivos de empresas aéreas também estão preocupados com a tensão nos centros de controle. Segundo eles, desde o acidente entre o jato Legacy e o Boeing da Gol, em 29 de setembro, a relação entre pilotos e controladores 'é a pior possível'. 'Eles não se respeitam mais', afirmou ao Estado o dirigente de uma das quatro maiores companhias do País. 'Temos de rezar para que nada de mais grave aconteça', diz ele.

Pereira comparou a crise a uma briga de casal. 'Precisamos administrar a briga de casal que poderá acontecer entre a Força Aérea Brasileira e esses controladores, depois da greve de sexta. Vamos estudar direitinho como os dois lados vão conviver nesse período de transição.'

A crise se acirrou sexta-feira, resultado de um motim de operadores que paralisou o espaço aéreo por cinco horas. O comandante da Força, Juniti Saito, ordenou a prisão dos amotinados do centro de controle aéreo de Brasília (Cindacta-1), mas recuou depois da intervenção direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula abortou a hipótese de qualquer medida drástica e mandou que fossem abertas negociações.

O governo se comprometeu a iniciar o processo de desmilitarização do controle aéreo, pagar uma gratificação emergencial à categoria e rever a transferência e punição dos controladores envolvidos no protesto. Mas ontem o próprio Pereira admitiu que a transição para o sistema civil poderá levar até seis anos. 'Essa desmilitarização não será tarefa fácil', afirmou. 'Não vai dar para resolver de uma hora para a outra. Vamos primeiro estancar uma hemorragia, cuidar da ferida, para que o País não continue sofrendo. O tratamento completo será muito longo. Pode demorar cinco, seis anos para desmilitarizar.'

O problema, segundo o brigadeiro, não está só na transferência dos 2.200 controladores militares para o âmbito civil, mas sim de toda a infra-estrutura necessária para o funcionamento do sistema. 'Será uma grande batalha para descobrir qual a melhor forma para organizar o novo controle', disse. 'Não é só a equipe de controladores, tem a equipe dos mantenedores, pessoal da meteorologia, especialistas em informação aeronáutica, equipamentos... Fora decidir o local físico. O esquema jurídico também é complicado, vai ter que se discutir o tempo de serviço de cada controlador, salário, um monte de coisas.'

O major Paulo Eduardo Albuquerque de Magella, da Divisão de Operações do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo, vê outro entrave. Para ele, a maioria dos controladores pode se recusar a virar civil. 'Só 10% deles estão insatisfeitos. São justamente os mais jovens, que tiveram a cabeça feita por meia dúzia de rebelados. Não tenho dúvidas de que a maioria quer permanecer militar.'

Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, ainda não há risco para a segurança de vôo, mas isso depende da agilidade do governo. 'Não enxergo risco iminente, a não ser que esta crise continue', diz. 'Teríamos (risco) se o governo não tomasse nenhuma atitude.'