Título: OMC fará reunião com países-chave em maio para tentar acordo agrícola
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2007, Nacional, p. A4
A Organização Mundial do Comércio (OMC) deverá reunir, em meados de maio, os ministros dos países-chave da Rodada Doha com o objetivo de fechar o pré-acordo sobre o polêmico capítulo agrícola. O sucesso dessa iniciativa deixará um espaço de menos de dois meses para a submissão desse acerto aos demais sócios da OMC e para a costura do acordo final da Rodada, que dificilmente terá condições políticas para prosseguir a partir de julho deste ano. A escassez de tempo para a conclusão das negociações foi o principal tópico da conversa entre o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a representante dos Estados Unidos para o Comércio (USTR), Susan Schwab, na sexta-feira, em Washington.
No encontro foi levantada novamente a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de trazer a decisão política final sobre a Rodada para um ¿encontro de líderes mundiais¿. Essa iniciativa poderá se dar em junho, durante a reunião anual do G-8 ampliado (EUA, Canadá, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Japão e Rússia e cinco países em desenvolvimento convidados) em Heiligendamm, na Alemanha. O presidente Lula deverá comparecer ao encontro.
¿Meados de maio talvez seja uma data mais provável para nós, os ministros de Comércio, termos material para nos sentar por alguns dias seguidos e encontrar um caminho, que depois tem de ser levado a todos os demais¿, afirmou Amorim.
Tanto Amorim quanto Schwab mostraram-se preocupados com a frustração, dentro da OMC, de países que não participam do núcleo principal da negociação e se vêem à margem do processo. Trata-se de um grupo que, se não for bem ¿trabalhado¿ até o fim de junho, poderá boicotar até mesmo o pré-acordo sobre agricultura e, portanto, toda a Rodada. No próximo dia 13, Amorim fará uma visita à Índia - um dos que se queixam desse tratamento.
Ainda em Nova Délhi, nos dias seguintes, o ministro de Comércio indiano, Kamal Nath, deverá reunir os protagonistas da Rodada. Segundo Amorim, o encontro não terá caráter negociador, mas permitirá explorar soluções para o quebra-cabeça agrícola. A rigor, a Rodada não avança há pelo menos nove meses por causa da ausência de uma proposta de corte mais acentuado nos subsídios dos Estados Unidos a seus agricultores - a peça-chave para a conclusão do pré-acordo para o setor.
Fragilizada no Congresso americano, a Casa Branca insiste em que não apresentará uma nova oferta sem receber a garantia de real abertura do mercado agrícola dos países em desenvolvimento populosos, reunidos no G-33 sob a liderança da Indonésia e da Índia. Esses países se mostraram dispostos a reduzir a margem de 20% de itens agrícolas que pretendiam conservar sob a proteção dos concorrentes estrangeiros. Mas, até o momento, não puseram nenhuma proposta concreta sobre a mesa.
Com o cronômetro ligado, a Rodada Doha outra vez está na berlinda. A possibilidade de os parceiros da OMC não alcançarem um acordo final até julho começa a ser considerada com mais ênfase. Nesse caso, os países envolvidos teriam duas opções: salvar os ganhos obtidos, como a eliminação completa dos subsídios à exportação de produtos agrícolas até 2013, ou decretar a falência da Rodada.
No sábado, ao lado do presidente George W. Bush, Lula destacou que ¿não existe um plano B¿ - uma referência ao acordo mínimo - e que só haverá ¿perdedores¿ se a Rodada naufragar. Bush remendou em seguida que é ¿um homem de plano A¿, que nunca esteve tão otimista sobre a conclusão do acordo, que será capaz de ¿trazer a paz ao mundo¿. Entretanto, Bush não deu nenhum sinal de corte mais fundo nos subsídios agrícolas.
Indagado sobre a hipótese de naufrágio da Rodada, Amorim declarou que ¿o mundo não vai acabar¿. Admitiu, contudo, que o nível de bem-estar vai cair. Essa piora seria sentida, por exemplo, pelo nascente setor fornecedor de biocombustíveis no mundo, que sofreria uma concorrência desleal com os similares produzidos nos países desenvolvidos com base em matérias-primas altamente subsidiadas.
¿Você acha que Burkina Faso vai conseguir competir com a União Européia?¿, argumentou Amorim, referindo-se a um dos mais pobres países africanos. ¿Acha que o etanol produzido a partir do caroço de algodão vai competir com a canola, na União Européia, ou o milho, nos EUA, se os subsídios continuarem no nível em que estão? Há consciência sobre isso e estamos trabalhando ativamente nisso.¿