Título: Subsídio é reação à Embraer, diz Bombardier
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2007, Negócios, p. B18

A Bombardier aponta que a decisão do governo do Canadá de abrir um novo projeto de subsídios para pesquisa e desenvolvimento de jatos é em parte uma resposta à forma pela qual a Embraer está sendo financiada para concorrer no mercado internacional de jatos.

A empresa ainda confirmou que, caso decida ir adiante com seu projeto de fabricar uma nova linha de aviões, tem garantido do governo canadense e britânico outro pacote de subsídios de US$ 700 milhões - além dos US$ 779 milhões anunciados anteontem. O governo brasileiro terá um encontro no final de abril com representantes do Canadá, Estados Unidos e Europa para negociar um acordo que regulamentaria como cada país poderia apoiar seu setor aeronáutico.

O programa de US$ 779 milhões ao setor aéreo foi anunciado pelo governo canadense na segunda-feira. Em declarações ao Estado, o porta-voz da Bombardier, Marc Duchesne, evitou dar detalhes de como a empresa pretende usar os recursos, mas deixou claro que a competitividade da Embraer é motivo de conversas entre a direção da companhia e o governo canadense. 'É por isso (competitividade da Embraer) que o governo decidiu ajudar o setor canadense a ter melhores condições de competir', disse Duchesne.

Pelo projeto canadense, os recursos seriam dados para financiar pesquisa e desenvolvimento. As autoridades em Ottawa não escondem que esperam, assim, incrementar a competitividade do setor aeronáutico do país. Duchesne preferiu não dar pistas de como a empresa pretende usar os recursos. 'Ainda é cedo para dizer.'

CONTRATOS MILITARES

Um dos argumentos da Bombardier é que a Embraer tem uma vantagem que não existiria no Canadá: os contratos militares fechados pela empresa. Ao obter esses contratos, tanto Embraer, como Boeing ou Airbus, acabam de forma indireta conseguindo recursos governamentais para desenvolver novas tecnologias e depois as transportam para modelos civis. Segundo o vice-presidente de relações externas da Embraer, Henrique Rzezinski, esse argumento é 'absolutamente sem fundamento'.

'Na Embraer, ocorre o contrário. Os programas militares não têm nenhuma aplicação civil. Para desenvolver a família 170/190, a empresa foi a mercado e levantou US$ 1 bilhão. O projeto não teve um centavo de dinheiro público.'

A guerra entre a Bombardier e a Embraer começou em meados dos anos 90. Brasil e Canadá tiveram de reformar seus sistemas de ajuda depois de julgamentos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Os dois países passaram, então, a negociar um acordo bilateral que está sob impasse diante do novo subsídio à Bombardier.

Em 2005, a disputa em torno da ajuda estatal que recebe a Bombardier voltou a despertar a atenção por causa de uma promessa dos governos canadense e britânico de destinar US$ 700 milhões para uma nova linha de aviões.

Ontem, Duchesne confirmou que a Bombardier poderá usar esses US$ 700 milhões. Mas que uma decisão sobre o projeto só seria tomada em 2008. 'Não são subsídios ilegais', disse. Ele garantiu que o dinheiro não virá dos fundos anunciados na segunda-feira. 'Não temos razão para acreditar que esse pacote será concretizado. Se isso ocorrer, estaremos atentos para que não haja subsídio ilegal, o que não acredito que o Canadá vá criar', disse Rzezinski.