Título: Defesa do meio ambiente também virou fator de risco
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2007, Nacional, p. A7

Até recentemente, as ameaças contra religiosos envolviam quase invariavelmente questões relacionadas a disputas pela posse da terra. Foi assim no caso de Anapu, onde caiu a religiosa Dorothy Stang, de 73 anos. Mas começam a ganhar destaque nas listas os conflitos por questões ambientais.

Segundo relato do bispo Geraldo Verdier, de Guajará-Mirim (RO), um de seus padres, o catalão José Iborra Blans, já recebeu ameaças de morte por ter denunciado a invasão de madeireiras em parques florestais e terras indígenas. Ainda de acordo com o bispo, as questões ambientais devem ganhar destaque nos conflitos daqui para frente.

No Pará, dois padres da Diocese de Santarém, que combatem a expansão do plantio de soja na região amazônica, também receberam ameaças, segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O mais visado deles é o padre e advogado Edilberto Sena, que ficou conhecido por causa de um programa na Rádio Rural de Santarém; o outro, o padre Boing, pároco da Igreja de São Raimundo Nonato, é reconhecido por sua atuação na área de direitos humanos.

No ano passado, após ameaças feitas contra os dois padres pelo site Orkut, a seção paraense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu proteção especial para eles. Há poucos dias, chegou à Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos Humanos, em Brasília, um pedido de proteção para um agente pastoral envolvido com a questão indígena. Seu nome - o décimo da lista - não foi divulgado a pedido do próprio agente, que teme por sua família, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Na opinião de d. Geraldo, a situação na região amazônica tende a melhorar com o fortalecimento do Estado na região. ¿Sinto que os conflitos tendem a se reduzir, com a presença mais atuante de órgãos da Justiça, como as promotorias¿, afirmou.

VISITA DO PAPA

D. Geraldo espera que o papa Bento XVI, em sua visita ao Brasil, faça referência à luta das pessoas mais pobres pelos seus direitos: ¿Espero que, de alguma maneira, ele beneficie a causa social. Me parece um homem inteligente, sincero, profundo e muito espiritualizado. Mas não sei como vê a questão social. Não sei se apóia essa Igreja que vive ameaçada, numa situação muito difícil.¿

A irmã Leonora Brunetto, que pertence à congregação Imaculado Coração de Maria, não acredita que o papa faça referências especiais à situação dessa ala da Igreja: ¿Não tenho muita esperança. Mas, por outro lado, se ele falar vai ser bom, porque pode trazer alguma luz, alguma força.¿

Segundo a irmã, os maiores incentivos para o trabalho que desenvolve junto aos sem-terra não vêm da cúpula da Igreja: ¿Há setores que chegam a criticar essa idéia de entrar na briga em defesa dos pobres. Minha força vem de Deus, da congregação à qual pertenço - e à qual só tenho a agradecer - e do povão.¿

No episcopado brasileiro, esse tipo de ação social da Igreja já teve mais força. Atualmente, um dos bispos mais identificados com essa ala é d. Erwin Krautler, presidente do Cimi.

ESCRAVIDÃO

Para Leonora, a situação dos setores populares mais organizados, especialmente na agricultura, está melhorando: ¿Eles buscam seus direitos, conseguem crédito, assistência técnica.¿ O que piorou, segundo a religiosa, foram as condições de vida dos trabalhadores rurais não organizados: ¿A gente sabe disso pelo aumento das denúncias de trabalhadores escravizados. Eles são levados para lugares distantes, fechados, de difícil acesso.¿

Antes de Mato Grosso, ela trabalhou com agricultores no Rio Grande do Sul, Maranhão e Rio Grande do Norte.