Título: Mutirão vai mapear subsolo do País
Autor: Villalba, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2007, Vida&, p. A17

Muito se fala sobre o potencial brasileiro em extração de minérios, mas o Brasil pouco conhece seu subsolo. Basta dizer que boa parte das jazidas em atividade no País foi descoberta por leigos ou por acaso, como o caso de Carajás nos anos 80. Agora, num esforço concentrado de universidades e governo federal, o mapa do subsolo brasileiro começa a ser desenhado por um mutirão de geólogos.

Até agora, o projeto mapeou em escalas detalhadas cerca de 8% dos 13 milhões de km2 que serão estudados. São 151 folhas de mapas. ¿É um processo muito caro e lento, mas fundamental para o desenvolvimento econômico do País¿, afirma Agamenon Dantas, presidente do Serviço Geológico do Brasil (conhecido pelo sigla CPRM). Dantas diz que o trabalho tem 30 anos de atraso. E comemora o fato de o Brasil ter, desde o ano passado, um mapeamento geológico em grande escala, que permite uma visão unificada das potencialidades do território. Levou quatro anos para ficar pronto. ¿O Brasil é o único país coberto nessa escala com um mapa totalmente referenciado, feito com tecnologia desenvolvida aqui mesmo. Essa é uma das nossas alegrias¿, diz.

O trabalho de mapeamento do subsolo é conduzido pelo Serviço Geológico do Brasil em parceria com instituições de ensino superior como Unesp, Universidade de São Paulo (USP), Unicamp, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre outras. Segundo Dantas, uma decisão de investimento por parte da iniciativa privada depende de estudos feitos em escalas mais detalhadas, o que torna o processo em andamento imprescindível para o crescimento do setor de mineração. ¿É quase óbvio, mas a retomada do levantamento geológico foi decidida com base no peso que o setor tem na economia. A iniciativa privada estava sem dados novos porque o Estado não estava cumprindo o seu papel de fornecer informações sobre o subsolo do País.¿

Para comparar, Canadá e Austrália, gigantes mundiais em mineração, têm hoje perfeito conhecimento de seu território. Nos últimos quatro anos, o governo repassou ao CPRM cerca de R$ 70 milhões, aplicados em ações desenvolvidas pelos 320 geólogos do instituto e em projetos externos de pesquisa, executados por universidades. É impossível dimensionar o quanto o País pode ganhar depois de saber o tamanho da riqueza que há no subsolo. Mas pode-se dizer que, em quatro anos, o investimento em pesquisas minerais feito por empresas privadas quadruplicou, segundo dados do CPRM, chegando a cerca de R$ 800 milhões, e a projeção é de que o setor invista R$ 27 bilhões nos próximos quatro anos.

BUSCA POR ÁGUA POTÁVEL

A expectativa que cerca o projeto é grande, mas a extração de minérios não é tudo. Como não há recursos nem mão-de-obra suficientes para fazer o mapeamento de uma só vez, o governo impôs critérios com prioridades. Além da proximidade de locais onde já há jazidas, municípios com índice de desenvolvimento humano baixo serão estudados primeiro. ¿O objetivo é a água subterrânea, além de poder gerar empregos¿, diz Dantas. Em quatro anos, geólogos ajudaram a levar água potável a 65 mil famílias, dando suporte a projetos do governo.