Título: Consumo banca ciclo de crescimento
Autor: Rehder, Marcelo e De Chiara, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2007, Economia, p. B1

O consumo das famílias brasileiras deu um salto de 13,3% nos últimos três anos, multiplicando por sete o crescimento registrado de 2001 a 2003 (1,8%). Os dados das contas nacionais, apurados pela metodologia atualizada do IBGE, indicam um novo ciclo de vendas desde o início do real, em junho de 1994.

O ritmo acelerado das vendas no primeiro trimestre surpreendeu grandes redes de lojas e instituições que oferecem crédito ao consumidor. Isso reforça, na avaliação dos analistas, a tendência de expansão sustentável do mercado interno. O aumento da demanda doméstica deverá ser o motor do crescimento em 2007.

¿O consumo tem crescido baseado numa plataforma mais sólida em comparação com o início do real¿, diz o economista Fernando Fenolio, da Rosenberg Consultores Associados. Esse novo ciclo é qualitativamente melhor, concordam os economistas. Diferentemente da explosão de consumo de 13 anos atrás, causada pelo fim da hiperinflação, agora as vendas estão sendo impulsionadas por uma série de fatores que caminham na mesma direção: abundância do crédito, renda em alta, inflação baixa, juros em queda e crescimento do emprego.

¿As vendas surpreenderam neste início de ano¿, afirma Michael Klein, diretor das Casas Bahia, a maior rede de varejo de eletroeletrônicos e móveis do País. No primeiro trimestre, as vendas cresceram 10% em relação a igual período de 2006, o dobro do esperado pelo executivo. Se o ritmo de crescimento se mantiver, a rede poderá ampliar os planos de abrir 50 lojas até dezembro.

A onda de consumo é ainda maior nas lojas de materiais de construção, favorecidas por uma maré de boas notícias. O faturamento da Dicico cresceu 15% nos últimos três meses em relação ao primeiro trimestre de 2006.

O resultado superou as expectativas do diretor de Marketing, Carlos Corazzin, que esperava crescer no máximo 10%. Com isso, reviu a previsão de aumento de vendas para o ano: de 12% para 15%. ¿Esse crescimento não é fogo de palha.¿ Segundo Corazzin, o brasileiro incluiu a casa própria na lista de prioridades de consumo. A rede acelerou a abertura de lojas.

O aumento do poder de compra, sobretudo das camadas de baixa renda, acirrou a disputa entre os supermercados. De 2005 para 2006, 8 milhões de brasileiros migraram das classes E e D para estratos mais altos, segundo pesquisa da Ipsos Public Affairs em parceria com a financeira Cetelem.

O Carrefour pretende abrir 20 lojas este ano, o dobro das inaugurações de 2006, em regiões fora do eixo Centro-Sul. Laurent Bendavid, diretor da rede, diz que as vendas do trimestre superaram as expectativas.

O Wal-Mart quer ampliar a atuação na baixa renda. O presidente,Vicente Trius, diz que serão abertas 28 lojas em 2007, ante 14 em 2006. Pelo menos 12 serão para as classes populares.