Título: Correa defende banco alternativo ao FMI
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2007, Nacional, p. A6

O presidente do Equador, Rafael Correa, propôs ontem que o Banco do Sul se torne uma alternativa da América do Sul ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e o embrião de um futuro Banco Central do continente. Sem se incomodar com a cautela do governo brasileiro a respeito, Correa propôs que esse novo banco seja constituído a partir da união das reservas internacionais dos países sul-americanos e priorize a concessão de crédito para os governos cobrirem seus rombos nas contas públicas. É uma versão bastante próxima do Banco do Sul defendido pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

¿Poderíamos unir as reservas internacionais em um fundo, chamado Banco do Sul, para financiar os próprios governos. Seria uma forma de evitar o vergonhoso condicionamento imposto pelo FMI¿, declarou Correa em entrevista à imprensa, logo depois de sua visita oficial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿A idéia é criar um fundo monetário regional que sirva para financiar os países e estabilizar os orçamentos públicos. E que seja o preâmbulo de um futuro banco central, para o dia que a região tenha uma moeda única¿, completou.

Segundo o presidente equatoriano, ¿a América Latina está financiando o Primeiro Mundo¿ já que chegam a bilhões de dólares as suas reservas em moeda estrangeira investidas no exterior. Também advertiu que a globalização deverá decretar a morte das moedas dos pequenos países. Por isso, a região deve buscar logo sua unificação monetária.

Em nenhum momento Correa tocou no fato de o Brasil acumular cerca de US$ 110 bilhões em reservas internacionais - a cifra mais elevada de sua história. Tampouco se referiu à promessa de Chávez de depositar no Banco do Sul US$ 1 bilhão das reservas venezuelanas.

Desde o início de março, diferentes propostas para o futuro Banco do Sul estão em discussão pelos ministros de Economia e Fazenda da América do Sul, sem que haja um consenso sobre o caráter da instituição - se será voltada ao financiamento de déficits públicos ou para obras de infra-estrutura.

Em princípio, os governos da América do Sul deverão amarrar o projeto final até o próximo dia 17. Nesse mesmo dia, Chávez, Lula, o argentino Néstor Kirchner e o boliviano Evo Morales estarão reunidos em Isla Margarita, na Venezuela, para discutir os projetos de integração energética da região. O Ministério da Fazenda brasileiro parece mais propenso a promover uma interconexão entre as instituições financeiras e de fomento já existentes.

O Itamaraty e o Palácio do Planalto mostram-se dispostos a negociar um novo modelo, mas não pretendem embarcar em um projeto do qual não tenham participado ativamente.

¿O Brasil está aberto a qualquer tipo de proposta para o Banco do Sul, mesmo à espécie de `FMIzinho¿ defendida por Correa¿, afirmou o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. ¿Nós não vamos aderir a um projeto de cuja elaboração não participamos. Não há atitude hostil nisso.¿

BIOCOMBUSTÍVEIS

Correa aliou-se aos esforços do governo brasileiro para a expansão da rede de fornecedores mundiais de biocombustíveis. Ao final de sua visita oficial, carregou três acordos de cooperação brasileira ao cultivo de insumos e aos estudos sobre a possível fabricação de biodiesel e etanol no país - além de outros 12 acertos em diferentes áreas. ¿Etanol é uma grande oportunidade. O Equador deve se preparar para uma economia não-petroleira e para o desenvolvimento de biocombustíveis. Não podemos continuar dependentes do petróleo¿, declarou.

Mesmo com o anúncio de Lula do plano da Petrobrás de injetar US$ 1 bilhão no Equador até 2010, Correa não deu nenhuma garantia de que esses projetos sairão do papel. Ontem, ressaltou que ¿100% das reservas¿ de petróleo, gás e minérios são nacionais e as companhias que atuam no setor são apenas concessionárias.