Título: Ministro escala diplomata para atuar como porta-voz de Lula
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2007, Nacional, p. A10

O diplomata gaúcho Marcelo Baumbach é o novo porta-voz do governo Lula. No Itamaraty desde 1992, ele estava na missão brasileira nas Nações Unidas em Nova York, onde atuou na equipe que representou o País no Conselho de Segurança entre 2004 e 2005. A uma pergunta sobre se torcia para o Internacional ou para o Grêmio, no primeiro contato com os jornalistas, o novo porta-voz sinalizou como pretende se comportar: ¿Prefiro não me pronunciar.¿

Na estréia no cargo, Baumbach acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa entrevista coletiva no Itamaraty. O novo porta-voz, sempre ao lado de Lula, foi confundido com seguranças da Presidência, pelo jeito sério e de militar. A diferença estava no terno bem cortado.

Em conversa com jornalistas, ele pediu ¿colaboração¿, sempre medindo as palavras. ¿Vamos poder desenvolver um bom trabalho e obter aquele que é o nosso objetivo, que é levar ao povo brasileiro uma informação fidedigna, informação de qualidade sobre aquilo que o governo está fazendo¿, afirmou o diplomata.

Ao anunciar o nome de Baumbach como substituto do professor e jornalista André Singer, que volta a dar aulas na Universidade de São Paulo (USP), o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, disse que o novo porta-voz está encarregado de repassar informações oficiais, sem ¿conversas e entrevistas¿.

¿Os diplomatas são capazes de entender pontos de vista diferentes e de dizer não quando for necessário¿, argumentou Franklin. ¿Ele vai separar o joio do trigo¿, reforçou.

No início da semana, o ministro havia atuado como um porta-voz improvisado, surpreendendo jornalistas com um relato detalhado de uma reunião de Lula com ministros. Bastidores e entrevistas, agora, segundo ele, serão obtidos junto a ministros e outros assessores do governo.

TRADIÇÃO

A separação entre a figura do porta-voz e a do assessor de imprensa é uma tradição que vem do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Tudo começou com a então secretária de Imprensa, Ana Tavares, uma mulher discreta que atuava nos bastidores do poder e que não gostava de aparecer diante das câmeras. Franklin Martins já manifestou simpatia pelo modelo Ana Tavares - de porta-voz lacônico e de distribuição organizada de notícias de acordo com empresas e profissionais.

Fernando Henrique contou com três porta-vozes durante seus oito anos de mandato. Os diplomatas Sérgio Amaral, Georges Lamazière e Antônio Parola não tiveram motivos para reclamar do período em que estiveram no cargo - voltaram ao Itamaraty alcançando bons postos no exterior.

ANTECESSORES

O primeiro presidente a ter um diplomata como porta-voz foi João Figueiredo (1979-1985). O embaixador Carlos Átila, no entanto, fazia também a figura do secretário de Imprensa.

Os demais presidentes da história recente escolheram jornalistas como porta-vozes, um costume que remonta ao início do período republicano.

Até mesmo os presidentes do regime militar recorreram, em diversas ocasiões, a profissionais da imprensa para falar por eles. Durante a República Velha, o costume era contratar repórteres para registrar eventos e viagens presidenciais, além de manter contato com a imprensa.