Título: Mantega apóia BC e muda equipe
Autor: Graner, Fabio e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2007, Economia, p. B1

Depois dos fortes ataques às políticas monetária e cambial do governo em entrevista ao Estado, o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida deixou o posto de secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. O ministro Guido Mantega anunciou ontem que Almeida será substituído pelo atual secretário-executivo, Bernard Appy. Para o lugar de Appy, irá o ex-ministro da Previdência Nelson Machado, que está em férias.

Na entrevista em que anunciou as mudanças,Mantega tentou restabelecer a trégua com o BC, cuja atuação foi criticada por Almeida e é vista com desconfiança por parte de sua equipe. ¿O BC está praticando uma política monetária correta, adequada para o País e a prova disso é que nunca tivemos condições tão favoráveis. É o melhor dos mundos: economia crescendo, inflação sob controle e juro caindo. É a combinação ideal para o crescimento sustentável.¿

O ministro também discordou da avaliação de Almeida que o câmbio sobrevalorizado está provocando desindustrialização. ¿É uma avaliação equivocada. Estamos verificando, no início deste ano, o crescimento de vários setores da indústria de transformação. Gostaria que tivesse crescido mais nos últimos anos, mas está crescendo bem. Não há esse fenômeno da desindustrialização, muito pelo contrário¿, disse. Mantega reafirmou a política de câmbio flutuante e ressaltou que a valorização do real reflete as condições favoráveis do País.

O ministro negou que a entrevista de Almeida ao Estado tenha sido a gota d¿água que o levou a demiti-lo. Segundo ele, Almeida já havia pedido demissão na última segunda-feira, embora o ex-secretário tenha dito à reportagem do Estado que só deixaria o cargo se o ministro quisesse. ¿Apenas estava pensando se aceitava ou não (o pedido de demissão de Almeida). Acho que ele já falou como se estivesse fora (do governo).¿

Fontes do Ministério da Fazenda, no entanto, admitiram que as declarações de Almeida precipitaram sua saída. Ao falar publicamente o que parte da equipe do ministério pensa a respeito da política do BC, Almeida violou a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos integrantes do governo. Lula quer que as divergências sejam discutidas internamente.

A intenção de Mantega era manter Almeida no cargo ao menos até concluir a formatação da nova equipe e evitar, assim, a vinculação da saída dele às divergências com os rumos da economia. O ministro também temia que, se continuasse no cargo, Almeida faria novos ataques públicos ao BC.

Segundo as fontes, Almeida, um economista vinculado ao setor industrial, já vinha demonstrando grande insatisfação com a valorização do câmbio. Para ele, o real está ¿sobrevalorizado¿ por conta de erros do BC na fixação da taxa de juros, visão compartilhada por parte da equipe de Mantega. O ex-secretário estava impaciente com a falta de medidas para reverter esse processo, que, segundo ele, eram ¿conhecidas de todas as autoridades do governo¿.

Para as fontes, o episódio protagonizado por Almeida também marca o início da disputa pela definição da meta de inflação de 2009, em junho. Essa decisão vai influenciar o ritmo de corte dos juros e a trajetória do câmbio no futuro. Uma meta mais ousada (menor que 4,5%), como gostaria o BC, poderia levar a mais conservadorismo da autoridade monetária.

Almeida também vinha se ressentindo da perda de poder e influência junto a Mantega, espaço ocupado cada vez mais pelo atual secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa.