Título: FMI alerta para riscos nos EUA
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2007, Economia, p. B7

O mundo parece ter ¿descolado¿ dos Estados Unidos e não deve ser contaminado pela desaceleração da economia americana, desde que a crise imobiliária dos EUA não seja mais ampla do que se espera. Se a bolha das hipotecas de alto risco sair do controle, o Produto Interno Bruto (PIB) de vários países será afetado, em especial os de Brasil e México.

A previsão é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou ontem três capítulos de seu relatório Perspectivas Econômicas Mundiais. ¿A maioria dos países vai conseguir descolar da economia americana e manter um crescimento robusto, se a desaceleração dos EUA se mantiver moderada como esperado; mas alguns países com fortes laços comerciais com os EUA podem ter algum efeito em sua atividade¿, diz o texto.

¿Mas se a economia americana tiver uma desaceleração mais acentuada, por causa de aprofundamento da crise imobiliária, a contaminação de outros países será mais ampla e o descolamento, mais difícil.¿ Até agora, os EUA espirraram, mas o resto do mundo não pegou um resfriado. Isso porque a queda do crescimento americano está ligada a questões específicas, como correções nos setores imobiliário e industrial.

Normalmente, a contaminação é maior quando a queda do PIB se deve a fatores mais abrangentes, como alta do petróleo, políticas de juros altos ou colapso de mercado acionário. Além disso, muitos países estão menos dependentes de seu comércio com os EUA. E, por fim, as economias do Japão e da União Européia estão mais fortalecidas.

Mas ainda há risco, alerta o Fundo. Se a correção do mercado imobiliário for maior do que se espera, a ponto de afetar a confiança do consumidor e provocar uma grande desaceleração no crescimento dos EUA, haveria grande contaminação na economia de outros países.

O FMI também aponta para a disseminação de vários instrumentos financeiros, como fundos de hedge e derivativos, que pode amplificar a contaminação. Os países com maiores laços com os EUA, como aqueles da América Latina, seriam os mais afetados por uma queda no PIB americano.

Em uma análise no final do capítulo ¿Descolando? Contaminação e ciclos na economia global¿, economistas do Fundo estimam os efeitos de uma queda de 1 ponto porcentual no crescimento dos EUA em outros países. ¿A contaminação parece especialmente grande no Brasil e no México¿, diz o relatório, enfatizando que os efeitos são maiores um trimestre após a queda. No caso do Brasil, uma redução de 1 ponto porcentual no crescimento americano pode resultar em 0,75 a 1 ponto de queda no PIB brasileiro. No caso do México, o número é de cerca de 0,75 ponto porcentual. Na Argentina, quase não há efeito.

Na avaliação do FMI, países com câmbio flutuante e que adotam o sistema de metas de inflação podem abrandar os efeitos derivados de uma eventual forte desaceleração do crescimento dos EUA. ¿Respostas políticas podem moderar ou amplificar os efeitos de contágio de problemas nos EUA ou em outras grandes economias¿, diz o FMI.

¿Sob o regime de meta de inflação, a política monetária ajuda a reduzir a resposta de produção aos choques adversos de demanda, sejam externos ou domésticos, por meio de acomodação monetária que acelere o ajuste de preços e, então, ajuste a produção¿, observa o Fundo. ¿A resposta da taxa de câmbio contribui para esse processo e reduz os contágios dos choques de demanda¿, acrescenta.

¿Com estruturas de política macroeconômica crescentemente flexíveis em diversos países, a política monetária deve estar bem posicionada para absorver os potenciais efeitos de contração na atividade econômica¿, diz o Fundo.

Na avaliação do FMI, uma desvalorização do dólar poderia auxiliar no estreitamento dos desequilíbrios globais. Estimativas do Fundo indicam que uma depreciação real de entre 10% e 15% da moeda americana é necessária para reduzir o déficit comercial do país em 1% do PIB.

¿Estimativas típicas sugerem que estreitar a relação déficit de conta corrente em proporção do PIB em 1 ponto porcentual exigiria depreciação real oscilando de 10% a 20%.¿