Título: Apagão aéreo enfraquece idéia de civil chefiando Defesa
Autor: Domingos, João e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2007, Nacional, p. A4

o Ministério da Defesa, que escapou da reforma ministerial, o saldo de cem dias de governo é negativo. O apagão aéreo fez dos passageiros os maiores prejudicados, mas a Defesa foi a grande vítima institucional da crise, que já dura seis meses. A queda de braço com os controladores acabou fortalecendo os comandantes militares. ¿Nunca vi as três Forças tão unidas¿, disse ao Estado um oficial do Alto Comando das Forças Armadas. Em baixa, a liderança frágil do ministro Waldir Pires ressuscitou até a idéia de ¿reestruturar¿ o ministério, mencionada na semana passada pelo presidente Lula - que, por sinal, deu contribuição direta para a crise, ao desautorizar o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, e depois voltar atrás.

Criado em 1999 para unificar o sistema de defesa da soberania nacional, o ministério foi planejado também para aprofundar a integração dos militares à democracia, devendo o titular ser um civil - que responderia ao presidente, enquanto os comandantes das três Forças chefiaram as tropas. No rastro da crise do apagão aéreo, entrou em circulação até a proposta de um militar assumir o ministério. ¿Por que não um militar, se já passaram tantos civis e não deu certo?¿, questiona o general Luiz Gonzaga Lessa, ex-comandante da Amazônia, hoje com assento no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Para o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da Comissão de Defesa Nacional do Senado, ¿não importa¿ se o escolhido é civil ou militar. ¿Tem de ser competente e não ter sua autoridade ferida¿, disse. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), depois de ressalvar que ¿falava em tese¿, dizendo ter ¿plena confiança¿ em Waldir Pires¿, declarou que não teria objeção a um militar.

O cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), reage com veemência contra a proposta. ¿Isso, em princípio, estimula a politização das Forças Armadas e não existe em lugar nenhum do mundo¿, afirma Caldas. ¿A idéia do Ministério da Defesa é retirar as Forças Armadas da linha de frente da política. No País, os antigos ministérios militares simplesmente tiveram os nomes alterados, mas não foram integrados.¿

¿O Ministério da Defesa não existe¿, avalia um ministro que despacha no Planalto. ¿Ele precisa ser totalmente reformulado.¿