Título: Controladores pedem 'perdão à sociedade'
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2007, Nacional, p. A6

Desejando ¿paz nos céus¿ e ¿feliz Páscoa¿ aos passageiros, a associação dos controladores de vôo divulgou ontem uma nota em que pede ¿perdão à sociedade brasileira¿ pelo ¿grande trauma da paralisação do dia 30 de março¿. O apagão aéreo provocado pelos controladores militares em greve, na sexta-feira da semana passada, instaurou o caos nos aeroportos. Eles recusaram-se a deixar o prédio do Cindacta-1, em Brasília, e pararam as decolagens no País por três horas.

Na ocasião, o presidente Lula impediu que os amotinados fossem presos, por ordem do comando da Aeronáutica, e destacou o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) para negociar com os controladores. Apesar de eles terem voltado ao trabalho e de ter soltado nota em que se comprometia com a revisão de eventuais punições, o governo depois voltou atrás no acordo feito com os operadores do tráfego aéreo.

Na nota de ontem da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), os controladores dizem que querem recuperar sua ¿imagem¿, ¿confiança¿, ¿prestígio¿ e ¿respeito¿, além de reafirmar a ¿confiança e respeito¿ no governo federal, no comando da Aeronáutica ¿e principalmente nas bases do militarismo: hierarquia e disciplina¿. No auge da crise, os controladores haviam dito que não confiavam no comando da Aeronáutica nem nos aparelhos que operam.

A nota representa um claro recuo depois dos acontecimentos da última semana. Depois do motim, os controladores se mostram preocupados com a imagem de vilões da crise aérea. ¿Que o dia 30 de março seja lembrado como um grito de socorro dos controladores de tráfego aéreo e não como uma simples rebelião de militares¿, afirma o texto, assinado pelo presidente da ABCTA, Wellington Rodrigues. ¿Pedimos perdão à sociedade brasileira e paz para voltarmos a executar com maestria nosso trabalho.¿

¿NO LIMITE¿

Na semana anterior, em meio à crise desencadeada com a greve, outra nota foi postada no site da ABCTA - sem assinatura - dizendo exatamente o oposto: ¿Chegamos no limite da condição humana, não temos condições de continuarmos prestando esse serviço, que é de grande valia para o País, da forma que estamos sendo geridos e como somos tratados. Não confiamos nos nossos equipamentos e não confiamos nos nossos comandos¿.

No texto, os controladores se queixavam de transferências involuntárias, perseguições e de estarem trabalhando com fuzis apontados contra si.

Na nota divulgada ontem, os controladores classificam como ¿um grande trauma¿ a paralisação da sexta-feira. ¿Os controladores de tráfego aéreo militares buscam forças para recuperar, junto à sociedade brasileira, sua confiança, prestígio e respeito¿, afirma o primeiro parágrafo do texto. Já no final da nota, a ABCTA sustenta que ¿não medirá esforços para reconstruir a imagem de seus representados assim como de lutar por sua dignidade¿.

Depois da encerrarem a paralisação do dia 30 com a promessa de que suas reivindicações seriam atendidas, os controladores viram o governo voltar atrás por conta da pressão dos comandantes militares. Na reunião desta semana, quando o acordo deveria ser discutido, Bernardo disse que ¿não negociava com a faca no pescoço¿ e nada foi adiante. A avaliação dos sargentos, então, foi que a corda tinha sido esticada ao máximo com a paralisação e que o setor terminou com uma imagem ruim perante a população.

Ontem, um ministro de Lula disse ao Estado que o Planalto está atento ao trabalho dos controladores e pronto para reagir em caso de ¿falta de bom senso¿. Em sua avaliação, ¿o governo mostrou aos controladores que já houve uma ruptura, precariamente cimentada¿.

ÍNTEGRA DA NOTA

Passado o grande trauma da paralisação do dia 30 de março, os controladores de tráfego aéreo militares buscam forças para recuperar, junto à sociedade brasileira, sua confiança, prestígio e respeito.

Reafirmamos nossa confiança e respeito ao governo federal, ao comando da Aeronáutica e principalmente nas bases do militarismo: hierarquia e disciplina.

Que o dia 30 de março seja lembrado como um ¿grito de socorro dos controladores de tráfego aéreo¿ e não como uma simples rebelião de militares.

Pedimos perdão à sociedade brasileira e paz para voltarmos a executar com maestria nosso trabalho.

A Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo não medirá esforços para reconstruir a imagem de seus representados assim como lutar por sua dignidade!

Paz nos céus, feliz Páscoa!

Wellington Rodrigues

Presidente da ABCTA.